O ato de cumprimentar alguém faz parte de diferentes culturas, varia de uma para outra e representa o desejo de estabelecer comunicação com o outro. Embora cumprimentar uma pessoa seja algo simples, entrar em contato alguém, mesmo formalmente, é sempre bastante expressivo.
A forma de se comportar e as expressões escolhidas podem revelar ou ser interpretadas como a intenção e a posição de quem fala em relação ao interlocutor. Essa forma escolhida para cumprimentar alguém pode ser entendida como “fórmulas prontas para iniciar ou interromper o contato” (FIORIN, 2002, p. 36).
Fiorin (idem, ibdem) explica que essas expressões têm função fática, ou seja, visam verificar a existência de contato para que seja iniciada uma conversa ou para manter um diálogo. Neste texto, entretanto, serão analisados somente cumprimentos e saudações realizados na cidade de Maceió. Para tanto, foram observadas três situações: uma ligação telefônica num ambiente ruidoso, a sala de espera de um consultório odontológico e algumas expressões usadas durante um trajeto de ônibus.
Na primeira situação, percebeu-se a constante necessidade de saber se o contato mantinha-se ativo ou não. A pessoa que realizava a chamada repetia diversas vezes expressões como certo, entendeu?, ok. Porém, o fato que mais chamou atenção foi a forma utilizada para iniciar a conversa:
- E aí?! Alô? Resolveu aquele problema?
A primeira expressão usada chama atenção por ser, na maior parte das vezes, verificada em conversações pessoais. O avanço tecnológico possibilita que a outra pessoa saiba quem está do outro da linha, por isso, tornam-se dispensável apresentações. Aquele que realizou a chamada, provavelmente, ligava para alguém conhecido, não precisou se identificar, certificou-se que o outro estava ouvindo simplesmente perguntando se algo novo havia acontecido ( E aí?). Talvez por não ouvir a resposta, ele tentou mais uma vez iniciar a comunicação (Alô?).
Na sala de espera, a situação observada foi o oposto da primeira. As saudações realizadas eram mais formais e continham menos mal entendidos, pois o contexto não variava muito. As pessoas que se apresentavam tinham consultas marcadas ou apareciam para resolver assuntos relacionados a isso. Em geral, as atendentes recebiam os pacientes da seguinte forma:
- Bom dia. O senhor tem consulta marcada ou veio para atendimento emergencial?
Nesta situação de cumprimento, além da expressão ser mais formal do que a usada pela pessoa do telefone celular, a funcionária do estabelecimento estabeleceu contato visual com seu interlocutor e sorria enquanto falava e passava as informações.
Nos dois casos descritos acima, o tom de voz revelou-se fundamental para a mensagem que se desejava passar. No primeiro, os ruídos do ambiente impediam a comunicação, portanto o homem precisava falar mais alto, mas manter o tom amigável, uma vez que não se tratava de uma discussão ao telefone. Na sala de espera, a voz da atendente era calma e gentil a fim de deixar as pessoas à vontade.
Dentro do ônibus, observaram-se mais tipos de cumprimentos. Como se tratava de horário de aula, o local estava cheio de pessoas que se conheciam e utilizavam os cumprimentos com o real intuito de iniciar e manter uma conversação por um tempo maior.
As expressões mais ouvidas foram: Oi (muitas vezes a palavra era alongada e acompanhada por dois beijos no rosto, quando eram mulheres), E aí, véi?, Beleza? (mais usadas por homens). As pessoas mais maduras usaram expressões mais comuns como: Tudo bem? Como vão as coisas?
Embora, inicialmente, as expressões observadas não tenham a mesma função daquelas usadas pelos Tuareg, que dependem disso para sobreviver no deserto, todas elas mostraram-se relevantes para o grupo que as utiliza. Cumprimentar o outro e estabelecer boas relações sociais revelam-se importantes, por exemplo, nos ambientes de trabalho e estudo.
FALCHETTI, Shani; DI LASCIO, Raphael Henrique Castanho. Como a modernização e a tecnologia influenciam nas relações humanas. Disponível em: http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0002
Acesso: 17 de abril de 2009.
YOUSSOUF, Ibrahim Ag et al (ed). Greetings in the desert. In: MONAGHAN, Leila; GOODMAN, Jane E. A cultural approach to interpersonal communication: essential readings. Singapore: Blackwell Publishing, 2007.