quarta-feira, 29 de abril de 2009

Um sei lá o quê

Não posso definir o meu estado de espírito quando me passaram como atividade de Língua Inglesa um certo estudo etnográfico de cumprimentos realizados na minha cidade. Ficar por aí ouvindo as conversas alheias para fazer um trabalho parece-me uma atividade de ensino fundamental misturada com o James Bond da fofoca. De qualquer forma, achando isso meio inútil ou não, meio útil ou menos ainda, não importa! O texto valia nota e aqui está o resultado:

O ato de cumprimentar alguém faz parte de diferentes culturas, varia de uma para outra e representa o desejo de estabelecer comunicação com o outro. Embora cumprimentar uma pessoa seja algo simples, entrar em contato alguém, mesmo formalmente, é sempre bastante expressivo.

A forma de se comportar e as expressões escolhidas podem revelar ou ser interpretadas como a intenção e a posição de quem fala em relação ao interlocutor. Essa forma escolhida para cumprimentar alguém pode ser entendida como “fórmulas prontas para iniciar ou interromper o contato” (FIORIN, 2002, p. 36).

Fiorin (idem, ibdem) explica que essas expressões têm função fática, ou seja, visam verificar a existência de contato para que seja iniciada uma conversa ou para manter um diálogo. Neste texto, entretanto, serão analisados somente cumprimentos e saudações realizados na cidade de Maceió. Para tanto, foram observadas três situações: uma ligação telefônica num ambiente ruidoso, a sala de espera de um consultório odontológico e algumas expressões usadas durante um trajeto de ônibus.

Na primeira situação, percebeu-se a constante necessidade de saber se o contato mantinha-se ativo ou não. A pessoa que realizava a chamada repetia diversas vezes expressões como certo, entendeu?, ok. Porém, o fato que mais chamou atenção foi a forma utilizada para iniciar a conversa:

- E aí?! Alô? Resolveu aquele problema?

A primeira expressão usada chama atenção por ser, na maior parte das vezes, verificada em conversações pessoais. O avanço tecnológico possibilita que a outra pessoa saiba quem está do outro da linha, por isso, tornam-se dispensável apresentações. Aquele que realizou a chamada, provavelmente, ligava para alguém conhecido, não precisou se identificar, certificou-se que o outro estava ouvindo simplesmente perguntando se algo novo havia acontecido ( E aí?). Talvez por não ouvir a resposta, ele tentou mais uma vez iniciar a comunicação (Alô?).

Na sala de espera, a situação observada foi o oposto da primeira. As saudações realizadas eram mais formais e continham menos mal entendidos, pois o contexto não variava muito. As pessoas que se apresentavam tinham consultas marcadas ou apareciam para resolver assuntos relacionados a isso. Em geral, as atendentes recebiam os pacientes da seguinte forma:

- Bom dia. O senhor tem consulta marcada ou veio para atendimento emergencial?

Nesta situação de cumprimento, além da expressão ser mais formal do que a usada pela pessoa do telefone celular, a funcionária do estabelecimento estabeleceu contato visual com seu interlocutor e sorria enquanto falava e passava as informações.

Nos dois casos descritos acima, o tom de voz revelou-se fundamental para a mensagem que se desejava passar. No primeiro, os ruídos do ambiente impediam a comunicação, portanto o homem precisava falar mais alto, mas manter o tom amigável, uma vez que não se tratava de uma discussão ao telefone. Na sala de espera, a voz da atendente era calma e gentil a fim de deixar as pessoas à vontade.

Dentro do ônibus, observaram-se mais tipos de cumprimentos. Como se tratava de horário de aula, o local estava cheio de pessoas que se conheciam e utilizavam os cumprimentos com o real intuito de iniciar e manter uma conversação por um tempo maior.

As expressões mais ouvidas foram: Oi (muitas vezes a palavra era alongada e acompanhada por dois beijos no rosto, quando eram mulheres), E aí, véi?, Beleza? (mais usadas por homens). As pessoas mais maduras usaram expressões mais comuns como: Tudo bem? Como vão as coisas?

Embora, inicialmente, as expressões observadas não tenham a mesma função daquelas usadas pelos Tuareg, que dependem disso para sobreviver no deserto, todas elas mostraram-se relevantes para o grupo que as utiliza. Cumprimentar o outro e estabelecer boas relações sociais revelam-se importantes, por exemplo, nos ambientes de trabalho e estudo.


Referências

BARROS, Diana Pessoa de. A comunicação humana. IN: FIORIN, José Luiz. Introdução à Lingüística I. São Paulo: Contexto, 2002.

FALCHETTI, Shani; DI LASCIO, Raphael Henrique Castanho. Como a modernização e a tecnologia influenciam nas relações humanas. Disponível em: http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0002
Acesso: 17 de abril de 2009.

YOUSSOUF, Ibrahim Ag et al (ed). Greetings in the desert. In: MONAGHAN, Leila; GOODMAN, Jane E. A cultural approach to interpersonal communication: essential readings. Singapore: Blackwell Publishing, 2007.


segunda-feira, 31 de março de 2008

Terreno

foi um solavanco repentino...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Os Pombos - Coelho Neto

Em prosseguimento às análises dos contos que nos tem sugerido nossa cara professora Gilda, decidi postar alguns comentários que fiz à pressa do conto de Coelho Neto, Os Pombos. Texto bastante envolvente que contém a marca característica do autor e que o fez indigesto para muitos modernistas.
"Os Pombos" trata do drama de um casal de lavradores Tibúrcio e Joana e de seu filho Luís que contrai grave enfermidade, ficando à morte. O pai do garoto é um diligente agricultor que cuida diletamente de um pombal, pois crê, segundo crença de regiões interioranas, que o movimento agitado dos pombos traz desgraça. O estado definhante da saúde do filho está intimamente ligado, segundo suas crendices, à condição dos pombos. Cada movimento das aves em debandada conduz o pensamento e as emoções de Tibúrcio.
Assim, à medida que as aves se vão embora, pressentindo a morte que deve vir perto, o lavrador vai ficando mais apreensivo e psicologicamente agitado. Após uma tentativa de ocupar-se na roça, enxada ao ombro e caminhada por uma longa verdura calma, movimentada pelo vento da tarde, Tibúrcio não consegue ater-se ao trabalho, o pensamento constante no filho e na esposa o acossa e acaba por levá-lo de volta a casa, já antevendo o pior:

De repente um pombo atravessou os ares, outro, outro, outro logo depois. Tibúrcio pôs-se de pé olhando - lá iam eles, lá iam! Asas estalaram - eram outros. Aqueles não tornariam mais! Fugiam espavoridos, sentindo a morte que devia vir perto.

No terreiro de sua cabana, fita o pombal deserto, alargando a vista em busca de algum sinal de retorno das aves. Ao lado da mulher, que o descobre lá contemplativo, ainda tenciona chamar uma rezadeira após notificação de Joana em reposta à sua curiosidade de que se haveria cura para isso, a fuga dos pombos. Alguns momentos e Joana torna a casa e de lá rompe um grito de desespero, era a tragédia anunciada. Tibúrcio entra no quarto de onde parte o estridor e vê o filho morto e mãe ao lado desfeita em pranto.
Fora, quando percebe o retorno dos pombos, desespera-se na sua revolta e derriba a machadadas o pombal, matando em seguida, entre as mãos convulsas, dois borrachos que recolhe do chão, indefesos e desfigurados.
O conto é perpassado pela agonia e apreensão do casal e centra-se no tema da superstição segundo a qual a migração dos pombos é prenúncio de morte. A espera dorida pelo retorno das aves é interrompida pela falecimento de Luís, em razão do qual Tibúrcio extravasa sua dor, quando destrói o pombal. Assim, a esperança de o filho curar-se fica-lhe condicionada à permanência dos pombos.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Um Poeta Lírico - Prosas Bárbaras, Eça de Queirós


Mais conhecido por seus romances, Eça de Queirós revela outros aspectos de sua prosa em duas outras modalidades literárias: a prosa jornalística e o conto. Neste último, ele permite-se emancipar-se dos rigores do romance realista, como no conto Um Poeta Lírico pertencente ao volume Prosas Bárbaras e que narra história de Korriscosso, um poeta grego entristecido devido à condição em que vive na Inglaterra.

O encontro entre ele e o narrador dá-se num hotel londrino, após uma viagem exaustiva pelo canal da Mancha, vindo do continente, feita por aquele. Costumava ser visto em pé junto a uma janela, solitário, com ar melancólico, olhar parado, embraçando um guardanapo no restaurante do hotel. As descrições longas do narrador sobre o moço são, por vezes, carregadas de metáforas originais que dão grande ênfase à apresentação ao leitor, sobretudo na caracterização da magreza, da aparência esguia e apática de Korriscosso.

Apesar do interesse inicial que o jovem lhe desperta, os cuidados da estadia e as necessidades de viagem tratam de fazer esmaecer a lembrança havida pelo poeta. Tal interesse renasce, entretanto, quando da volta do narrador a Londres e este depara um amigo de anos, Brancolletti, um gordo bonacheirão e de sorriso cativante, porém com vezos de pedófilo, pois é singularmente guloso de rapariguinhas de doze a catorze anos, de preferência louras e impudicas com a palavras.

Este amigo foi quem lhe contou sobre o poeta, pois, como veio a saber posteriormente, exigindo-lhe confidências que satisfizessem sua curiosidade, Brancolletti e o gajo eram amigos e tinham ambos viajado a Europa a trabalho. A revelação de que era grego, entretanto, a princípio o desanima, haja vista uma voga preconceituosa abonar o juízo generalizante de ser o grego um gatuno. Assim, por causa dessa malhada reputação de malandro e verificado o fato de que um livro do autor havia desaparecido do quarto, aquiesceu rapidamente este com a moda difamatória e o considerando-o um bandido.

Nessa noite, por causa do grande movimento no hotel e também devido ao feitio complexo de sua instalação, o narrador perde-se e erra pelos caminhos feitos de corredores, escadas e salas os mais variados. Finalmente, depara um quarto onde acha o poeta debruçado sobre um mesa coberta de papéis, um colarinho e rosário e, entre eles, seu livro que fora espoliado do quarto.

Procedendo com esmerada misericórdia, o autor observa marcas que denunciam o gosto poético do jovem e, da conversa entretida, surge uma simpática atmosfera de confraternização entre eles, ambos poetas e, portanto, irmanados. Daí em diante, Korriscosso conta-lhe sua história entremeada de lacunas: formado em leis e compondo suas primeiras elegias num semanário lírico, aparecem-lhe ocasiões para realizar-se na vida política. Viajou muito, enamorou-se e, num momento em que fora indicado para trabalhar numa alta administração, é rejeitado e refugia-se na Inglaterra.

Nesse país, padece a solidão e o prosaísmo vilão do capitalismo que lhe tira tempo para o trabalho com o espírito. Vive, assim, dias atribulados, quando tem que conviver com a glutonaria e a folgança burguesa no restaurante. Trabalhar derrogatoriamente para atender à baixa necessidade material das elites, enquanto essas se refestelam no seu leito de ninharias, é uma indignidade que sua alma tocada pela sutileza artística, pelo instinto do som, da rima, pelo efeito do drama, não pode suportar.

Em contos como esse, Eça, em vez de caracterizar sociologicamente suas personagens, o faz apenas psicologicamente, ensejando a discussão sobre a problemática das vicissitudes humanas. No caso de Korriscosso, sobre a oposição demérita entre arte e materialismo capitalista, quando este, na sua tendência voraz ao amealhamento, ignora e dessacraliza a arte.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Homo Videns

Já sabendo a resposta, ainda assim pergunto: Há leitores na internet?
É uma questão crucial. Um filósofo e politólogo italiano, Giovanni Sartori, produziu um interressante opúsculo, em 1991, sobre a função nefasta da televisão sobre o homem, tirando-o a capacidade de abstração. Em certo sentido, é possível trensferir essa deturpação para a internet, que, devo admitir, não é de toda má.
Para Sartori, cuja obra chama-se "Homo Videns: Televisão e Pós-Pensamento", a televião estaria simplesmente mundando a natureza do ser humano, que deixa de ser homo sapiens (homem que sabe) para torna-se homo videns (homem que vê) inaugurando a era do pós-pensamento. Incapaz de elaborar um pensamento abstrato, o homem se torna um idiota guiado por símbolos e imagens.
Analisando o comportamento de internautas viciados pela rede adentro, é possível perceber essa tendência de condicionar o indivíduo à indústria da incultura e da imbecilidade. Viciados em Orkut e em outras comunidades, em sites de bate-papo sem finalidade útil, em jogos eletrônicos via computador, entre outros, têm se mostrado condicionados a um comportamento limitado e incapaz de ascender ao mundo inteligível, sendo, por isso, seu único guia a pobre simbologia que influncia seus olhos. É lastimável que mães e pais permitam que seus filhos despendam horas diante do computador escravizados por jogos eletrônicos e conversas inúteis, que as casas de intenet (lan house) estejam atulhadas de bufarinhieros de ninharia unicamente para adicionar e conhecer "aquela pessoa interessamteno no Orkut". Saliento como necessário afirmar que não condeno o uso do Orkut, mas apenas a dependência patológica dessa comunidade a que muitos estão sujeitos.
Como havia dito, a internet não é toda má, mas a sua ilimitação quanto aos usos conduz o homem ao meso fim dos que se submetem à ditadura imbecilizante da televisão. A multiplicidade e a complexidade de sons e imagens que a internet oferece têm minado a capacidade de pensar de alguns. Parece que, como a televisão, ela criou e continua a criar "um homem que não lê, que revela um alarmante entorpecimento mental, um molóide alimentado pelo vídeo (ou monitor), um potencial apedeuta viciado na vida dos jogos eletrônicos!"

sábado, 28 de julho de 2007

Animal Farm as a Utopia


The definition of utopia is “no place” and means a place or state that exists only in the imagination, where everything is perfect. This idea is usually displayed by communist governments and, in Orwell’s novel, the utopia dreamed by Old Major failed because of Napoleon. He started a bad leadership since the animals managed to get rid of Mr. Jones.

Before dying, Old Major explains his ideas of equality among the animals and convinces them to struggle against the owner of the farm. The old pig also says humans are the only creatures that consumes without producing and sings “Beasts of England”, which shows them the great life without man. So, the night Mr. Jones arrived drunk and forgot to feed the animals, they decide to organize their revolution.

Three days later, the old boar passes away and Snowball and Napoleon take over the place. But Napoleon wants all the power. When his friend become the leader and gathers the other animals to discuss the construction of a windmill, Napoleon stands up with nine enormous dogs which run after Snowball.

At this moment, Napoleon shows himself as a tyrant who's omitted his aims. He has trained the dogs for his protections, as well as other purposes. Then he becomes hypocrite and tries to erase everything he lived. From this time on, the idea of equality among the animals falls apart and turns into a dystopia, which is the antithesis of utopia, characterized by an oppressive social control.

The pigs break the rules and go into Mr. Jones’ house. They start to eat in the kitchen and sleep in beds. Clover remembers that there is something saying not to do that in the Seven Commandments, but she cannot read, so asks Muriel to read the fourth one. The goat says: “No animal shall sleep in beds with sheets”. Clover does not remember anything about sheets.

Because of the pigs’ attitude, the animals notice their perfect world is not the way they planned. The more Napoleon wants more power, the more the utopia goes away. The tyrant blames Snowball when the windmill is destroyed by the storm and takes more rations just as they are running out of food. This confuses the other animals.

The utopia changes to a dictatorship under Napoleon’s whip. He gained the animals’ trust only to improve his living and installed a caste system with two groups: the rulers – the pigs, and the workers – the rest of the animals. When Napoleon took command, the equal and perfect society they dreamt of failed. Napoleon made changes to justify his actions and turned out to be a symbol of greed.



quarta-feira, 18 de julho de 2007

O feio apaixonado

Quando tive pela primeira vez a consciência de quem sou, automaticamente me estatizei olhando incógnito olhando para o espelho, nesse mesmo instante (seja por aflição, seja pelo deslumbre da tamanha descoberta) superei a opinião dos meus genitores, dos quais ou por amor ou por insegurança, iludiram-me com qualidades que nunca foram minhas.
Sou (assim sinto, entendo, percebo...) como um incógnito raquítico de rosto largo e chato. Meus olhos de tão fundos se esgoelam num espaço profundo e escuro, porém retém em suas inexpressivas depressões um brilho-reflexo do globo, sempre fosco, sempre rouco... Se um dia for possível chamar as finas faixas vermelha-tijolo de lábios, talvez conseguirei dominar as profundas raízes dérmicas do conjunto face e talvez um sorriso mal elaborado seria exprimido... mas sou um feio triste e agora, um feio que sente o seu próprio peso.
Posso sentir a pena recalcada pela mentira. Senti (instantaneamente) pena e ódio das duas únicas pessoas das quais amei cativado, eles – grito em silêncio - deduziram-me do real! Fui comprado por palavras adocicadas com veneno quimérico e o legado que embrulharam tão cerimoniosamente chamei de repúdio. Ou seja, a incapacidade de amar a mim mesmo por não ser o que sempre fui, sou (concluo) um vazio feio... Pior! Eu fui um prisioneiro, vontade cativada na vontade de outros, a minha essência era mentira, os meus ensejos eram falácias... Ao menos agora, sou uma falácia conhecedora das suas próprias limitações...
Assim, quase que por ritual, gasto os olhos e as horas olhando-me no espelho, demarcando cada novo contorno. Criei mapas de mim mesmo, ludibriei-me em signos insensíveis. Cada parte tinha no conjunto um fim fundamental (das quais formalmente compreendia) e seja por insegurança ou loucura guardei centímetro por centímetro desse eu meu novo arcabouço imaginário, pois se algo mudasse como poderia saber ou lembrar do que eu realmente era? Se isso acontecesse, esse eu seria eu? Ou seria um desconhecido? Digo, um estranho?
Por isso olhei-me vorazmente no espelho, e logo senti um desejo rigoroso de permanecer feio, pois agora tudo era provido de uma estirpe de hipócritas e o todo simplesmente me causava asco. Nem o que considerava por belo o era. A expressão possível seria feita por ato: pintaria em negro a palavra NULO! E intimamente pude dizer a mim mesmo confirmando: “esse belo é Dela... foi Ele que achava isso bonito...”. E mal percebi, que seguidamente insistia o meu olhar naquela figura bizarra refletida no espelho a qual me proporcionava ora por impulso ora por espanto, um prazer confirmador de êxtase: “isso sim, é uma pessoa feia”.
Agora, ao sair, encarava a todos com pura ironia, estampava em meu feio “sorriso” [o que eu poderia designar como sorriso] um ar de superioridade, digo se não, de entrega total da minha vontade. E assim fui o homem menos hipócrita existente, pois, também percebei que o resto era consumido por uma ridícula confusão de beleza-suja e maquilagem monstruosa. Afora também pude encontrar outros feios, mas estes eram embonecados e submissos do desejo escravo de beleza. Eram falso-feios, restos sem identidade e por isso a minha maior diversão tornou-se passar as horas perdido na fixação do único outro tão puramente feio quanto eu: o meu reflexo...
Facilmente uma consciência brotava daquela imagem, mas ela sempre seria incorporada pelo profundo silêncio que nos separava e pude imaginar que o mesmo acontecia para o outro no seu lado... A camada de vidro precariamente polida demarcava a sina das duas realidades. E nem por isso não seria impossível a compreensão de todos os segredos e estórias transmitidas por milhões de expressões corporais, linguagens magníficas livre-intuitivas, pois as palavras pareciam agora, uma expressão infantil ou mesmo incoerente. A completude era comprimida de segundo em segundo, sem erros ou desvios típicos lingüísticos... Alegria era uma forma de sorrir, olhar, respirar, cantar; tristeza era pela boca livremente inclinada, pelo movimento estático dos olhos e mecânicos em todo corpo. Tudo era compreendido fluidicamente.
As palavras assim foram perdendo uso, e notei-me deslocado quase infinitamente do exterior desse lago, e logo, pelo que o médico disse: “... esquizofrênico...”, pude perceber que o único vínculo com os estranhos era ou o meu corpo o qual simbolizava a forma de um suposto filho ou as antigas lembranças (ignoradas é claro) e conclui quase maquinalmente que a verdadeira função dos meus pais havia sido a de me fazer um escravo do belo-humano e a melhor forma de me afastar dessa demarca ética, foi a de me tornar um mudo-verbal e gênio na arte da fala corpórea, vivido num novo itinerário, numa vida simples e nua para mim e para o outro... até a porta do quarto ser trancada, lacrada e por fim... Esquecida.
Em pouco tempo os outros desistiram de invadir o nosso território, contentados (no devido tempo) aflitivamente com a minha única e última frase: “... comida...”. E traziam-na no que pelo começo era uma grande cerimônia, depois ritos e por fim cotidiano lúdico e desgostoso da lembrança de um espectro.
Dia após dia nos tornávamos mais íntimos, mais seguros de nossas concepções, mal podíamos perceber o tempo e logo compreendemos que o tempo era mais uma invenção tola de controle dos belos (novos e velhos). Assim tornávamos instantaneamente passado, presente e futuro, fluxo rufante da eternidade absoluta de nossos vertiginosos gestos profundos. Deste novo universo, o outro me proporcionou uma percepção tão nítida da minha consciência, do meu estado, que inevitavelmente criei um juízo sobre as minhas necessidades e aos poucos reformulei todos os valores impostos e cravados no meu ser... Primeiro retirei a roupa como símbolo maior de liberdade, e a nudez assim (tanto para mim quanto para o ser no reflexo), tornava o feio um ar puro límpido nunca percebido nos corpos crentes por beleza. O resto a partir deste ponto foi-se dissolvido numa metamorfose inconstante. Fechei a janela que banhava-me à luz todas as manhãs, fundi-me ao chão na deriva das noites e sentia-me parte do mundo. Por fim perdi toda a fome existente, o meu corpo se conservava pela força construtiva do meu pensamento, se havia alguma necessidade, essa seria a profunda necessidade de entrar em contato com o outro...
Esta necessidade passou pelo limite da existência e da convivência, uma crise obsessa de contato, onde o espaço se tornava uma arma de opressão tanto paras os sentidos quanto para a própria vontade. Se o ato de fechar os olhos me comprometia pela necessidade de fuga, virtualmente modelei a imagem do outro, que em nossa própria linguagem convocava, seduzia, encantava e me fazia perder a consciência de ter consciência, tornei assim um escravo desse desejo. Com as mãos no vidro, chorei, amei, horrorizei, calei e fiz esquecida toda a realidade recriada. E construí nessa neurose a mais nova e última existência... Era o olhar eqüitante do outro pelo qual acreditei que a reciprocidade da vontade, pois, quanto mais profundos eram os meus gestos de angústias, mais via nos seus possíveis reflexos transparentes a dor e a penúria sincrônicas. Vivíamos num estado de um para o outro, realidades distantes, mas eternamente nossa.
Mal percebi que a resposta encontrada pelo meu último rastro de instinto sobrevivente havia sido de tornar mudo o corpo e na própria prática-estática de se tornar uma estatua, o conforto foi se colidindo com o real e o real se tornava calmamente uma frenesi... O fim somente veio quando mudo atirei-me no espelho, feliz e pleno.

Por fim, restava o filete de sangue saindo do escuro e perdido dado ao silêncio da alcova...

Moreno B.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

PRIDE AND PREJUDICE, by Jane Austen

“Vanity and pride are different things, though the words are often used synonymously. A person may be proud without being vain. Pride relates more to our opinion of ourselves; vanity, to what we would have others think us.”
Jane Austen
INTRODUCTION

“Pride and Prejudice”, by Jane Austen, was her most popular novel, published on 28 January 1813 and it is one of the first romantic comedies in history, which received initially the name of First Impressions, but it was never published under that title. However both of them relate mainly to Elizabeth’s and Darcy’s misunderstandings when they got acquainted. The success of the book is probably due to the unusual relationship established between the main characters, the haughty Mr. Darcy, who has inspired many other stories, and Miss Elizabeth, a headstrong girl who attracts readers for her liveliness, as well as the ironies always present in their conversations.

PLOT SUMMARY

The story begins with, perhaps, the most famous phrase of English literature: It is a truth universally acknowledged that a single man in possession of a good fortune must be in want of a wife, which provides a first thought on what the book is about. Mr. and Mrs. Bennet have five daughters, Jane, Elizabeth, Catherine, Lydia and Mary, and since the eldest was sixteen, the woman’s main object is marriage. She turned in great enthusiasm by the arrival of a young quite rich single man, Mr. Bingley, who was temporarily in the state with his friend, Mr. Darcy, two sisters, Miss Bingley and Mrs. Hurst, as well as her husband. They attend a ball in town and meet the Bennets. Bingley dances with Jane and many other girls, then suggests that Darcy dances with Elizabeth, but he refuses it. Darcy did it only twice with his friend’s sisters, “declined being introduced to any other lady and spent the rest of the evening in walking about the room, speaking occasionally to one of his own party” (p. 11), therefore, people from Netherfield found him “at the same time haughty, reserved, and fastidious, and his manners, though well bred, were not inviting” (p. 15). Besides, when he was asked about Elizabeth’s beauty, Darcy said she was tolerable. On the other hand, Bingley proved to be very agreeable.

Soon after the ball, Mr. Collins, Mr. Bennet’s cousin, who would inherit his property, visits the family to marry one of the girls. Once his patroness, Lady Catharine de Bourgh, said he had to find a wife. He chooses Elizabeth, but she does not accept the proposal, even though her mother insists on this. In the meantime, she meets Mr. Wickham, a handsome and charming young officer. He informs her he knows Mr. Darcy since they were children and tells her his story which creates a prejudice against the haughty man.

After Elizabeth’s refusal, Mr. Collin marries her friend, Charlotte Lucas. Some time later, the new couple invite Miss Bennet to visit them. But Mr. Darcy also goes to Rosings to see his aunt, Lady Catharine. So Elizabeth and he meet each other everyday and this leads to a change in Darcy’s feelings for her. Until one day, he declares his love and she refuses it by saying he insulted her family, separated her “most beloved sister” from the man she loved and caused Mr. Wickham’s misfortunes. The next day, he gives a letter explaining everything he had done and the situation with Wickham. This brought about Eliza another opinion of Mr. Darcy.

Many weeks later, she travels with the Gardiners, her aunt and uncle. They reach Darcy’s state, Pemberly, whiles he is not at home. But he comes back one day before and they meet each other unexpectedly. Surprisingly, he acts thoroughly different: talks to her and her family politely. He manages to change Elizabeth’s bad opinions of him and presents her to his sister, Georgiana.

When Darcy and Elizabeth start to get along well, she receives a letter from Jane saying Lydia eloped with Wickham. She cries in front of Darcy and tells him everything, returning home the same day. They discover Wickham has gambling debts and does not intend to marry Lydia. Mr. Darcy pays everything to make him marry Elizabeth’s sister, but keeps Eliza and her family unaware of everything

Lady Catherine finds out her nephew’s proposal to Lizzy and inquires her if that might be true. As Miss Bennet gives her evasive answers, the lady goes back home and tells her nephew what happened in Hertfordshire. He realizes there is a possibility of marrying Elizabeth. The story ends with two engagements: Mr. Darcy and Elizabeth and Mr. Bingley with Jane and Kitty’s and Mary’s change of behavior.


AUTHOR’S BIOGRAPHY

Jane Austen was born on 16 December 1775, in Hampshire. Her parents were the Reverend George Austen and Cassandra. In the beginning, she was educated at home and, as a child, wrote comic stories. The first mature work was a novella – Lady Susan. In her twenties, she wrote the novels Sense and Sensibility and Pride and Prejudice.

After her father’s death, she, her sister and her mother moved to Chawton Cottage and this was her most productive period. Sense and Sensibility, Pride and Prejudice, Mansfield Park and Emma were published that time. When she finished Persuasion, however, her health began to fail. This one and Northanger Abbey were published at the same time.

She died on 28 July 1817, but her books have never been out of print and are often included on lists of readers' favorites. One believes that she died from Addison’s disease.



HOPE YOU ENJOY IT!!

>> Read the novel in English <<

>> Read the novel in Spanish <<

>> Read the novel in Portuguese <<


domingo, 24 de junho de 2007

PRONOMES RELATIVOS LATINOS

Reiterando as palavras de Napoleão Mendes de Almeida, a explicação e compreensão desta classe de pronomes exige perfeito conhecimento do assunto em português. Desta sorte, conclamo os caros colegas que revisem e reforcem seus conhecimentos sobre pronomes relativos portugueses, a fim de apreender bem este importante conceito em latim.

Observem que em:

  • O homem que eu vi chegou

o que refere-se a homem e é objeto de ver, pois desdobrando a oração, temos: O homem chegou (o qual homem vi).

  • O homem que nos convidou saiu

perceba-se que o pronome que, nessa oração, exerce a função de sujeito, pois ele atua no processo de convidar. Assim, no desdobramento: o homem saiu (o qual homem nos convidou)

  • Os soldados cuja coragem é apreciável já partiram

o pronome cuja indica posse e exige, se for ocaso, a preposição exigida pelo verbo que lhe segue. Logo, pelo desdobramento da oração, vemos que: Os soldados de quem a coragem é apreciável já partiram.

Em português, por esses exemplos, claro está que os pronomes relativos concordam com o conseqüente em gênero e número, no caso de qual e cujo. Já em latim, concordam os relativos com os antecedentes em gênero e número, dependendo a concordância do caso da função sintática que o pronome exerce na oração. Vamos aos fatos:

  • Flores, quorum odor suavissimus est, sunt rosae et violae (as flores cujo odor é o mais suave são as rosas e as violetas)

Perceba-se que quorum concorda em número com flores e exerce a função genitiva em relação a esse termo (as flores das quais o odor...)

  • Non omnes agri, quos ille agricola possidet, fertiles sunt (Nem todos os campos que aquele lavrador possui são férteis)

a forma quos, no masculino plural, concorda com agri, também no masculino plural. A função sintática é objeto direto e, portanto, acusativo, pois agri é complemento verbal em relação a possidet, nesse caso, representado pelo pronome quos.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O MESTRE POE


Edgar Allan Poe foi mais que um poeta e escritor. Prestou-se a ser um anunciador do apocalipse da existência interior, sempre conturbada, assolada por conflitos decorrentes dos vícios, da inaceitação, do desajustamento pessoal à existência. Seus personagens não tinham vida própria. Eram tipos marginalizados, neuróticos, compulsivos, degradados, atormentados por estigmas morais, preconceitos, enfim, nada que chegasse a exaltar o belo; era o criador do feio, do tétrico, do sombrio. Por isso, sempre me atraíram tantos suas obras como sua vida.
Notavelmente, quem é diferente, quem se sobrepõe aos demais, quem foge à vulgaridade reinante no seio da sociedade é estigmatizado pela mesma, tratado como pária, estranhado. Assim era Poe, um típico espectro social, absolutamente avesso ao mundo trivial dos homens. Não devo estranhar, pois, que sinto o mesmo ferrete a marcar-me a pele.
À sua época, ele foi o grande responsável pelo sucesso do Graham's Magazine, primeira das grandes revistas americanas modernas, mensário de maior tiragem em todo o mundo. Crítico mordaz, todavia justo, tinha tanta facilidade em despertar admiração quanto em criar inimigos a cada linha que publicava. Antes disso, havia sido elogiosamente recomendado pelo senado e pelo próprio secretário de guerra à Academia Militar de West Point, reduto da tradicional elite americana. Amigo de Charles Dickens (autor de "Oliver Twist" e "Barnaby Jones"), filho único de uma rica família de comerciantes, estudou nas melhores escolas da costa leste americana, da Escócia e da Inglaterra, onde morou por cinco anos.
Até o dia de sua morte, preparou precioso legado composto de poemas (sua obsessão), contos, críticas, ensaios e artigos que seduziram primeiro o público francês e só depois, ironicamente, americanos e ingleses. Para o argentino Jorge Luís Borges, Poe foi o criador do romance policial como gênero literário, pai de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle e do Hercule Poirot de Agatha Christie, entre todo os outros. Para Charles Baudelaire, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, foi alma gêmea em vida e obra, um exemplo a ser seguido. Júlio Cortázar o tem como marco da literatura norte-americana, um compulsivo criador de personagens intensos.
Foi fonte de inspiração para Mallarmé, Stephen King, Arthur Rimbaud, Paul Valéry, Lautréamont, H.P. Lovecraft, Dostoiévski, Júlio Verne, Apollinaire, espalhando generosamente o brilho de sua contribuição entre sedentos músicos, coreógrafos, quadrinistas e cineastas. O jornalista Ivan Schimdt, seu biógrafo mais recente, confiante na abrangência e universalidade da obra, recomenda um olhar mais atento em sebos e bibliotecas à procura de algum exemplar perdido do mestre. Edgar Allan Poe figura entre os maiores nomes da literatura universal e faz os milhares de nós da evolução humana parecerem ter valido a pena.
A vida do gênio, contudo, não refletiu a glória e o luxo de sua obra. Seus 40 anos de existência lhe reservaram apenas míseros momentos de alegria. Poe foi infeliz, um pária, um deserdado, um abandonado, um viciado, um amante não correspondido, endividado, homem ao qual cabem todos os adjetivos decorrentes da ação do azar e da desgraça. A história tratou deste compulsivo com a mesma injustiça dispensada a outros gênios e só revelou sua importância após a morte, em 1849. Em vida, Poe colecionou reveses e catástrofes íntimas.
Nasceu em 19 de janeiro de 1809, filho de um paupérrimo casal de atores mambembes. O pai David, doente, desapareceu quando o pequeno tinha pouco mais de um ano. A mãe Elizabeth, atriz talentosa e vítima de tuberculose, deixou o jovem órfão antes mesmo de completar os três. Rico exportador de fumo, o casal John e Francis Allan assumiu a tutela do pobre menino e deu ao futuro poeta talvez as únicas oportunidades de sucesso em vida. Apesar do amor de Francis, John e Edgar jamais entraram em acordo: o pai o queria advogado, político e mesmo um comerciante. Poe só pensava na literatura e, desde os 14 ou 15 anos, escondia-se para escrever. Elmira Royster, uma das grandes paixões, surgiu aos seus olhos nesta época.
Aluno de direito na Universidade da Virgínia, aos dezessete anos, Poe dividia-se entre a leitura, a criação e o vício. Desde cedo, mostrava-se fraco para o álcool, além de jogador compulsivo. Em apenas um ano longe da família, suas farras criaram uma dívida de milhares de dólares que, se nunca chegou a ser liquidada, bastou para solidificar as desavenças entre pai e filho. Longe da academia, preferiu fugir de casa e alistar-se com o falso nome de Henry Le Rennét no exército. Fugia, assim, da supervisão paterna, dos credores, do amor esfacelado (Elmira havia de casado) e - talvez exemplo para Sartre, Hemingway e Orwell - encontrava na caserna o tempo para escrever. Seus bons serviços às armas lhe renderam recomendação para West Point, mas o sargento só tinha sentidos para a literatura: como cadete, agüentou lá menos de oito meses.
Nas fases de miséria (elas foram praticamente eternas), Poe se refugiava na casa da tia Maria Clemm, dividindo espaço com a avó paralítica, o irmão igualmente poeta e alcoólatra, a jovem prima e o primo tuberculoso. Nada o impedia de escrever, nada freava a verve para a desgraça. Ao abandonar West Point, reuniu o que lhe sobrava de dinheiro e integridade física (muito pouco), somou ao ímpeto criativo (este, abundante) e investiu na carreira jornalística.
Vagando entre os periódicos de Baltimore, Richmond e New York, Poe iniciou sua fase de sucesso (se é que pode ser assim chamada) como contista e crítico. Sempre em troca de migalhas, estampava clássicos como "O Relato de Arthur Gordon Pym" e "Manuscrito Encontrado Numa Garrafa" nas páginas fugazes dos jornais. Escreveu "A Queda da Casa de Usher", "A Conversa de Eiros e Charmion" e o quase autobiográfico "Willian Wilson" nesse período de relativo reconhecimento.
Aos 23 anos, Poe casava em segredo com a prima Virgínia (sua musa para Annabel Lee, Ligéia, Berenice, Madeline...) de apenas 13 anos. Afundava-se cada vez mais no rum e na morfina, atirava-se como suicida às festas, saraus e noitadas, mas ainda mantinha o pulso com boa caligrafia, o cérebro critico e o vocabulário ferino. Lançou, entre 1831 e 1848, além do já citado "Relato", obras definitivas como "Tales of Grotesque and Arabesque" traduzido por Baudelaire para “Histórias Extraordinárias” título pelo qual ficou conhecida a obra em português, "Romances em Prosa", "Eureka, Um Poema em Prosa" e o eterno "O Corvo e Outros Poemas".
O estilo de Poe voltava-se para o crime investigativo, o terror mórbido e sombrio, e sua beleza e estilo literário são considerados ímpares na literatura mundial. Um escritor, um poeta, que, às vezes, em poucas linhas apenas conseguiu criar obras primas como o conto intitulado: "A Máscara da Morte Rubra", uma de suas mais aclamadas obras.
Em 1847, a bela Virgínia morre depois de longo tempo de sofrimento e Poe começa manifestar os primeiros sintomas de desgaste físico: problemas coronarianos e cérebro lesado pelos aditivos punham o poeta sob constante supervisão médica. Como os pais verdadeiros, o jornalista fazia das viagens uma necessidade constante da profissão e, num destes deslocamentos de barco rumo a Philadelphia, desceu em Baltimore, certamente embriagou-se , caiu doente numa calçada e morreu, praticamente sozinho. Os médicos haviam advertido do perigo de voltar ao copo, mas nem mesmo o casamento já anunciado com o amor da adolescência, Elmira, colocou o indomável sob as amarras do bom comportamento. Mesmo ao morrer, Poe foi um infeliz. A ironia do destino fez com que o homem que passou a vida sob as sombras, retratando-as com inigualável maestria, passou a brilhar apenas após a morte, quando as brumas que arquitetou se espalharam pelo mundo e, ao contrário das tristezas que as deram gênese, transformaram-se em luz criativa.