quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Os Pombos - Coelho Neto

Em prosseguimento às análises dos contos que nos tem sugerido nossa cara professora Gilda, decidi postar alguns comentários que fiz à pressa do conto de Coelho Neto, Os Pombos. Texto bastante envolvente que contém a marca característica do autor e que o fez indigesto para muitos modernistas.
"Os Pombos" trata do drama de um casal de lavradores Tibúrcio e Joana e de seu filho Luís que contrai grave enfermidade, ficando à morte. O pai do garoto é um diligente agricultor que cuida diletamente de um pombal, pois crê, segundo crença de regiões interioranas, que o movimento agitado dos pombos traz desgraça. O estado definhante da saúde do filho está intimamente ligado, segundo suas crendices, à condição dos pombos. Cada movimento das aves em debandada conduz o pensamento e as emoções de Tibúrcio.
Assim, à medida que as aves se vão embora, pressentindo a morte que deve vir perto, o lavrador vai ficando mais apreensivo e psicologicamente agitado. Após uma tentativa de ocupar-se na roça, enxada ao ombro e caminhada por uma longa verdura calma, movimentada pelo vento da tarde, Tibúrcio não consegue ater-se ao trabalho, o pensamento constante no filho e na esposa o acossa e acaba por levá-lo de volta a casa, já antevendo o pior:

De repente um pombo atravessou os ares, outro, outro, outro logo depois. Tibúrcio pôs-se de pé olhando - lá iam eles, lá iam! Asas estalaram - eram outros. Aqueles não tornariam mais! Fugiam espavoridos, sentindo a morte que devia vir perto.

No terreiro de sua cabana, fita o pombal deserto, alargando a vista em busca de algum sinal de retorno das aves. Ao lado da mulher, que o descobre lá contemplativo, ainda tenciona chamar uma rezadeira após notificação de Joana em reposta à sua curiosidade de que se haveria cura para isso, a fuga dos pombos. Alguns momentos e Joana torna a casa e de lá rompe um grito de desespero, era a tragédia anunciada. Tibúrcio entra no quarto de onde parte o estridor e vê o filho morto e mãe ao lado desfeita em pranto.
Fora, quando percebe o retorno dos pombos, desespera-se na sua revolta e derriba a machadadas o pombal, matando em seguida, entre as mãos convulsas, dois borrachos que recolhe do chão, indefesos e desfigurados.
O conto é perpassado pela agonia e apreensão do casal e centra-se no tema da superstição segundo a qual a migração dos pombos é prenúncio de morte. A espera dorida pelo retorno das aves é interrompida pela falecimento de Luís, em razão do qual Tibúrcio extravasa sua dor, quando destrói o pombal. Assim, a esperança de o filho curar-se fica-lhe condicionada à permanência dos pombos.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Um Poeta Lírico - Prosas Bárbaras, Eça de Queirós


Mais conhecido por seus romances, Eça de Queirós revela outros aspectos de sua prosa em duas outras modalidades literárias: a prosa jornalística e o conto. Neste último, ele permite-se emancipar-se dos rigores do romance realista, como no conto Um Poeta Lírico pertencente ao volume Prosas Bárbaras e que narra história de Korriscosso, um poeta grego entristecido devido à condição em que vive na Inglaterra.

O encontro entre ele e o narrador dá-se num hotel londrino, após uma viagem exaustiva pelo canal da Mancha, vindo do continente, feita por aquele. Costumava ser visto em pé junto a uma janela, solitário, com ar melancólico, olhar parado, embraçando um guardanapo no restaurante do hotel. As descrições longas do narrador sobre o moço são, por vezes, carregadas de metáforas originais que dão grande ênfase à apresentação ao leitor, sobretudo na caracterização da magreza, da aparência esguia e apática de Korriscosso.

Apesar do interesse inicial que o jovem lhe desperta, os cuidados da estadia e as necessidades de viagem tratam de fazer esmaecer a lembrança havida pelo poeta. Tal interesse renasce, entretanto, quando da volta do narrador a Londres e este depara um amigo de anos, Brancolletti, um gordo bonacheirão e de sorriso cativante, porém com vezos de pedófilo, pois é singularmente guloso de rapariguinhas de doze a catorze anos, de preferência louras e impudicas com a palavras.

Este amigo foi quem lhe contou sobre o poeta, pois, como veio a saber posteriormente, exigindo-lhe confidências que satisfizessem sua curiosidade, Brancolletti e o gajo eram amigos e tinham ambos viajado a Europa a trabalho. A revelação de que era grego, entretanto, a princípio o desanima, haja vista uma voga preconceituosa abonar o juízo generalizante de ser o grego um gatuno. Assim, por causa dessa malhada reputação de malandro e verificado o fato de que um livro do autor havia desaparecido do quarto, aquiesceu rapidamente este com a moda difamatória e o considerando-o um bandido.

Nessa noite, por causa do grande movimento no hotel e também devido ao feitio complexo de sua instalação, o narrador perde-se e erra pelos caminhos feitos de corredores, escadas e salas os mais variados. Finalmente, depara um quarto onde acha o poeta debruçado sobre um mesa coberta de papéis, um colarinho e rosário e, entre eles, seu livro que fora espoliado do quarto.

Procedendo com esmerada misericórdia, o autor observa marcas que denunciam o gosto poético do jovem e, da conversa entretida, surge uma simpática atmosfera de confraternização entre eles, ambos poetas e, portanto, irmanados. Daí em diante, Korriscosso conta-lhe sua história entremeada de lacunas: formado em leis e compondo suas primeiras elegias num semanário lírico, aparecem-lhe ocasiões para realizar-se na vida política. Viajou muito, enamorou-se e, num momento em que fora indicado para trabalhar numa alta administração, é rejeitado e refugia-se na Inglaterra.

Nesse país, padece a solidão e o prosaísmo vilão do capitalismo que lhe tira tempo para o trabalho com o espírito. Vive, assim, dias atribulados, quando tem que conviver com a glutonaria e a folgança burguesa no restaurante. Trabalhar derrogatoriamente para atender à baixa necessidade material das elites, enquanto essas se refestelam no seu leito de ninharias, é uma indignidade que sua alma tocada pela sutileza artística, pelo instinto do som, da rima, pelo efeito do drama, não pode suportar.

Em contos como esse, Eça, em vez de caracterizar sociologicamente suas personagens, o faz apenas psicologicamente, ensejando a discussão sobre a problemática das vicissitudes humanas. No caso de Korriscosso, sobre a oposição demérita entre arte e materialismo capitalista, quando este, na sua tendência voraz ao amealhamento, ignora e dessacraliza a arte.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Homo Videns

Já sabendo a resposta, ainda assim pergunto: Há leitores na internet?
É uma questão crucial. Um filósofo e politólogo italiano, Giovanni Sartori, produziu um interressante opúsculo, em 1991, sobre a função nefasta da televisão sobre o homem, tirando-o a capacidade de abstração. Em certo sentido, é possível trensferir essa deturpação para a internet, que, devo admitir, não é de toda má.
Para Sartori, cuja obra chama-se "Homo Videns: Televisão e Pós-Pensamento", a televião estaria simplesmente mundando a natureza do ser humano, que deixa de ser homo sapiens (homem que sabe) para torna-se homo videns (homem que vê) inaugurando a era do pós-pensamento. Incapaz de elaborar um pensamento abstrato, o homem se torna um idiota guiado por símbolos e imagens.
Analisando o comportamento de internautas viciados pela rede adentro, é possível perceber essa tendência de condicionar o indivíduo à indústria da incultura e da imbecilidade. Viciados em Orkut e em outras comunidades, em sites de bate-papo sem finalidade útil, em jogos eletrônicos via computador, entre outros, têm se mostrado condicionados a um comportamento limitado e incapaz de ascender ao mundo inteligível, sendo, por isso, seu único guia a pobre simbologia que influncia seus olhos. É lastimável que mães e pais permitam que seus filhos despendam horas diante do computador escravizados por jogos eletrônicos e conversas inúteis, que as casas de intenet (lan house) estejam atulhadas de bufarinhieros de ninharia unicamente para adicionar e conhecer "aquela pessoa interessamteno no Orkut". Saliento como necessário afirmar que não condeno o uso do Orkut, mas apenas a dependência patológica dessa comunidade a que muitos estão sujeitos.
Como havia dito, a internet não é toda má, mas a sua ilimitação quanto aos usos conduz o homem ao meso fim dos que se submetem à ditadura imbecilizante da televisão. A multiplicidade e a complexidade de sons e imagens que a internet oferece têm minado a capacidade de pensar de alguns. Parece que, como a televisão, ela criou e continua a criar "um homem que não lê, que revela um alarmante entorpecimento mental, um molóide alimentado pelo vídeo (ou monitor), um potencial apedeuta viciado na vida dos jogos eletrônicos!"

sábado, 28 de julho de 2007

Animal Farm as a Utopia


The definition of utopia is “no place” and means a place or state that exists only in the imagination, where everything is perfect. This idea is usually displayed by communist governments and, in Orwell’s novel, the utopia dreamed by Old Major failed because of Napoleon. He started a bad leadership since the animals managed to get rid of Mr. Jones.

Before dying, Old Major explains his ideas of equality among the animals and convinces them to struggle against the owner of the farm. The old pig also says humans are the only creatures that consumes without producing and sings “Beasts of England”, which shows them the great life without man. So, the night Mr. Jones arrived drunk and forgot to feed the animals, they decide to organize their revolution.

Three days later, the old boar passes away and Snowball and Napoleon take over the place. But Napoleon wants all the power. When his friend become the leader and gathers the other animals to discuss the construction of a windmill, Napoleon stands up with nine enormous dogs which run after Snowball.

At this moment, Napoleon shows himself as a tyrant who's omitted his aims. He has trained the dogs for his protections, as well as other purposes. Then he becomes hypocrite and tries to erase everything he lived. From this time on, the idea of equality among the animals falls apart and turns into a dystopia, which is the antithesis of utopia, characterized by an oppressive social control.

The pigs break the rules and go into Mr. Jones’ house. They start to eat in the kitchen and sleep in beds. Clover remembers that there is something saying not to do that in the Seven Commandments, but she cannot read, so asks Muriel to read the fourth one. The goat says: “No animal shall sleep in beds with sheets”. Clover does not remember anything about sheets.

Because of the pigs’ attitude, the animals notice their perfect world is not the way they planned. The more Napoleon wants more power, the more the utopia goes away. The tyrant blames Snowball when the windmill is destroyed by the storm and takes more rations just as they are running out of food. This confuses the other animals.

The utopia changes to a dictatorship under Napoleon’s whip. He gained the animals’ trust only to improve his living and installed a caste system with two groups: the rulers – the pigs, and the workers – the rest of the animals. When Napoleon took command, the equal and perfect society they dreamt of failed. Napoleon made changes to justify his actions and turned out to be a symbol of greed.



quarta-feira, 18 de julho de 2007

O feio apaixonado

Quando tive pela primeira vez a consciência de quem sou, automaticamente me estatizei olhando incógnito olhando para o espelho, nesse mesmo instante (seja por aflição, seja pelo deslumbre da tamanha descoberta) superei a opinião dos meus genitores, dos quais ou por amor ou por insegurança, iludiram-me com qualidades que nunca foram minhas.
Sou (assim sinto, entendo, percebo...) como um incógnito raquítico de rosto largo e chato. Meus olhos de tão fundos se esgoelam num espaço profundo e escuro, porém retém em suas inexpressivas depressões um brilho-reflexo do globo, sempre fosco, sempre rouco... Se um dia for possível chamar as finas faixas vermelha-tijolo de lábios, talvez conseguirei dominar as profundas raízes dérmicas do conjunto face e talvez um sorriso mal elaborado seria exprimido... mas sou um feio triste e agora, um feio que sente o seu próprio peso.
Posso sentir a pena recalcada pela mentira. Senti (instantaneamente) pena e ódio das duas únicas pessoas das quais amei cativado, eles – grito em silêncio - deduziram-me do real! Fui comprado por palavras adocicadas com veneno quimérico e o legado que embrulharam tão cerimoniosamente chamei de repúdio. Ou seja, a incapacidade de amar a mim mesmo por não ser o que sempre fui, sou (concluo) um vazio feio... Pior! Eu fui um prisioneiro, vontade cativada na vontade de outros, a minha essência era mentira, os meus ensejos eram falácias... Ao menos agora, sou uma falácia conhecedora das suas próprias limitações...
Assim, quase que por ritual, gasto os olhos e as horas olhando-me no espelho, demarcando cada novo contorno. Criei mapas de mim mesmo, ludibriei-me em signos insensíveis. Cada parte tinha no conjunto um fim fundamental (das quais formalmente compreendia) e seja por insegurança ou loucura guardei centímetro por centímetro desse eu meu novo arcabouço imaginário, pois se algo mudasse como poderia saber ou lembrar do que eu realmente era? Se isso acontecesse, esse eu seria eu? Ou seria um desconhecido? Digo, um estranho?
Por isso olhei-me vorazmente no espelho, e logo senti um desejo rigoroso de permanecer feio, pois agora tudo era provido de uma estirpe de hipócritas e o todo simplesmente me causava asco. Nem o que considerava por belo o era. A expressão possível seria feita por ato: pintaria em negro a palavra NULO! E intimamente pude dizer a mim mesmo confirmando: “esse belo é Dela... foi Ele que achava isso bonito...”. E mal percebi, que seguidamente insistia o meu olhar naquela figura bizarra refletida no espelho a qual me proporcionava ora por impulso ora por espanto, um prazer confirmador de êxtase: “isso sim, é uma pessoa feia”.
Agora, ao sair, encarava a todos com pura ironia, estampava em meu feio “sorriso” [o que eu poderia designar como sorriso] um ar de superioridade, digo se não, de entrega total da minha vontade. E assim fui o homem menos hipócrita existente, pois, também percebei que o resto era consumido por uma ridícula confusão de beleza-suja e maquilagem monstruosa. Afora também pude encontrar outros feios, mas estes eram embonecados e submissos do desejo escravo de beleza. Eram falso-feios, restos sem identidade e por isso a minha maior diversão tornou-se passar as horas perdido na fixação do único outro tão puramente feio quanto eu: o meu reflexo...
Facilmente uma consciência brotava daquela imagem, mas ela sempre seria incorporada pelo profundo silêncio que nos separava e pude imaginar que o mesmo acontecia para o outro no seu lado... A camada de vidro precariamente polida demarcava a sina das duas realidades. E nem por isso não seria impossível a compreensão de todos os segredos e estórias transmitidas por milhões de expressões corporais, linguagens magníficas livre-intuitivas, pois as palavras pareciam agora, uma expressão infantil ou mesmo incoerente. A completude era comprimida de segundo em segundo, sem erros ou desvios típicos lingüísticos... Alegria era uma forma de sorrir, olhar, respirar, cantar; tristeza era pela boca livremente inclinada, pelo movimento estático dos olhos e mecânicos em todo corpo. Tudo era compreendido fluidicamente.
As palavras assim foram perdendo uso, e notei-me deslocado quase infinitamente do exterior desse lago, e logo, pelo que o médico disse: “... esquizofrênico...”, pude perceber que o único vínculo com os estranhos era ou o meu corpo o qual simbolizava a forma de um suposto filho ou as antigas lembranças (ignoradas é claro) e conclui quase maquinalmente que a verdadeira função dos meus pais havia sido a de me fazer um escravo do belo-humano e a melhor forma de me afastar dessa demarca ética, foi a de me tornar um mudo-verbal e gênio na arte da fala corpórea, vivido num novo itinerário, numa vida simples e nua para mim e para o outro... até a porta do quarto ser trancada, lacrada e por fim... Esquecida.
Em pouco tempo os outros desistiram de invadir o nosso território, contentados (no devido tempo) aflitivamente com a minha única e última frase: “... comida...”. E traziam-na no que pelo começo era uma grande cerimônia, depois ritos e por fim cotidiano lúdico e desgostoso da lembrança de um espectro.
Dia após dia nos tornávamos mais íntimos, mais seguros de nossas concepções, mal podíamos perceber o tempo e logo compreendemos que o tempo era mais uma invenção tola de controle dos belos (novos e velhos). Assim tornávamos instantaneamente passado, presente e futuro, fluxo rufante da eternidade absoluta de nossos vertiginosos gestos profundos. Deste novo universo, o outro me proporcionou uma percepção tão nítida da minha consciência, do meu estado, que inevitavelmente criei um juízo sobre as minhas necessidades e aos poucos reformulei todos os valores impostos e cravados no meu ser... Primeiro retirei a roupa como símbolo maior de liberdade, e a nudez assim (tanto para mim quanto para o ser no reflexo), tornava o feio um ar puro límpido nunca percebido nos corpos crentes por beleza. O resto a partir deste ponto foi-se dissolvido numa metamorfose inconstante. Fechei a janela que banhava-me à luz todas as manhãs, fundi-me ao chão na deriva das noites e sentia-me parte do mundo. Por fim perdi toda a fome existente, o meu corpo se conservava pela força construtiva do meu pensamento, se havia alguma necessidade, essa seria a profunda necessidade de entrar em contato com o outro...
Esta necessidade passou pelo limite da existência e da convivência, uma crise obsessa de contato, onde o espaço se tornava uma arma de opressão tanto paras os sentidos quanto para a própria vontade. Se o ato de fechar os olhos me comprometia pela necessidade de fuga, virtualmente modelei a imagem do outro, que em nossa própria linguagem convocava, seduzia, encantava e me fazia perder a consciência de ter consciência, tornei assim um escravo desse desejo. Com as mãos no vidro, chorei, amei, horrorizei, calei e fiz esquecida toda a realidade recriada. E construí nessa neurose a mais nova e última existência... Era o olhar eqüitante do outro pelo qual acreditei que a reciprocidade da vontade, pois, quanto mais profundos eram os meus gestos de angústias, mais via nos seus possíveis reflexos transparentes a dor e a penúria sincrônicas. Vivíamos num estado de um para o outro, realidades distantes, mas eternamente nossa.
Mal percebi que a resposta encontrada pelo meu último rastro de instinto sobrevivente havia sido de tornar mudo o corpo e na própria prática-estática de se tornar uma estatua, o conforto foi se colidindo com o real e o real se tornava calmamente uma frenesi... O fim somente veio quando mudo atirei-me no espelho, feliz e pleno.

Por fim, restava o filete de sangue saindo do escuro e perdido dado ao silêncio da alcova...

Moreno B.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

PRIDE AND PREJUDICE, by Jane Austen

“Vanity and pride are different things, though the words are often used synonymously. A person may be proud without being vain. Pride relates more to our opinion of ourselves; vanity, to what we would have others think us.”
Jane Austen
INTRODUCTION

“Pride and Prejudice”, by Jane Austen, was her most popular novel, published on 28 January 1813 and it is one of the first romantic comedies in history, which received initially the name of First Impressions, but it was never published under that title. However both of them relate mainly to Elizabeth’s and Darcy’s misunderstandings when they got acquainted. The success of the book is probably due to the unusual relationship established between the main characters, the haughty Mr. Darcy, who has inspired many other stories, and Miss Elizabeth, a headstrong girl who attracts readers for her liveliness, as well as the ironies always present in their conversations.

PLOT SUMMARY

The story begins with, perhaps, the most famous phrase of English literature: It is a truth universally acknowledged that a single man in possession of a good fortune must be in want of a wife, which provides a first thought on what the book is about. Mr. and Mrs. Bennet have five daughters, Jane, Elizabeth, Catherine, Lydia and Mary, and since the eldest was sixteen, the woman’s main object is marriage. She turned in great enthusiasm by the arrival of a young quite rich single man, Mr. Bingley, who was temporarily in the state with his friend, Mr. Darcy, two sisters, Miss Bingley and Mrs. Hurst, as well as her husband. They attend a ball in town and meet the Bennets. Bingley dances with Jane and many other girls, then suggests that Darcy dances with Elizabeth, but he refuses it. Darcy did it only twice with his friend’s sisters, “declined being introduced to any other lady and spent the rest of the evening in walking about the room, speaking occasionally to one of his own party” (p. 11), therefore, people from Netherfield found him “at the same time haughty, reserved, and fastidious, and his manners, though well bred, were not inviting” (p. 15). Besides, when he was asked about Elizabeth’s beauty, Darcy said she was tolerable. On the other hand, Bingley proved to be very agreeable.

Soon after the ball, Mr. Collins, Mr. Bennet’s cousin, who would inherit his property, visits the family to marry one of the girls. Once his patroness, Lady Catharine de Bourgh, said he had to find a wife. He chooses Elizabeth, but she does not accept the proposal, even though her mother insists on this. In the meantime, she meets Mr. Wickham, a handsome and charming young officer. He informs her he knows Mr. Darcy since they were children and tells her his story which creates a prejudice against the haughty man.

After Elizabeth’s refusal, Mr. Collin marries her friend, Charlotte Lucas. Some time later, the new couple invite Miss Bennet to visit them. But Mr. Darcy also goes to Rosings to see his aunt, Lady Catharine. So Elizabeth and he meet each other everyday and this leads to a change in Darcy’s feelings for her. Until one day, he declares his love and she refuses it by saying he insulted her family, separated her “most beloved sister” from the man she loved and caused Mr. Wickham’s misfortunes. The next day, he gives a letter explaining everything he had done and the situation with Wickham. This brought about Eliza another opinion of Mr. Darcy.

Many weeks later, she travels with the Gardiners, her aunt and uncle. They reach Darcy’s state, Pemberly, whiles he is not at home. But he comes back one day before and they meet each other unexpectedly. Surprisingly, he acts thoroughly different: talks to her and her family politely. He manages to change Elizabeth’s bad opinions of him and presents her to his sister, Georgiana.

When Darcy and Elizabeth start to get along well, she receives a letter from Jane saying Lydia eloped with Wickham. She cries in front of Darcy and tells him everything, returning home the same day. They discover Wickham has gambling debts and does not intend to marry Lydia. Mr. Darcy pays everything to make him marry Elizabeth’s sister, but keeps Eliza and her family unaware of everything

Lady Catherine finds out her nephew’s proposal to Lizzy and inquires her if that might be true. As Miss Bennet gives her evasive answers, the lady goes back home and tells her nephew what happened in Hertfordshire. He realizes there is a possibility of marrying Elizabeth. The story ends with two engagements: Mr. Darcy and Elizabeth and Mr. Bingley with Jane and Kitty’s and Mary’s change of behavior.


AUTHOR’S BIOGRAPHY

Jane Austen was born on 16 December 1775, in Hampshire. Her parents were the Reverend George Austen and Cassandra. In the beginning, she was educated at home and, as a child, wrote comic stories. The first mature work was a novella – Lady Susan. In her twenties, she wrote the novels Sense and Sensibility and Pride and Prejudice.

After her father’s death, she, her sister and her mother moved to Chawton Cottage and this was her most productive period. Sense and Sensibility, Pride and Prejudice, Mansfield Park and Emma were published that time. When she finished Persuasion, however, her health began to fail. This one and Northanger Abbey were published at the same time.

She died on 28 July 1817, but her books have never been out of print and are often included on lists of readers' favorites. One believes that she died from Addison’s disease.



HOPE YOU ENJOY IT!!

>> Read the novel in English <<

>> Read the novel in Spanish <<

>> Read the novel in Portuguese <<


domingo, 24 de junho de 2007

PRONOMES RELATIVOS LATINOS

Reiterando as palavras de Napoleão Mendes de Almeida, a explicação e compreensão desta classe de pronomes exige perfeito conhecimento do assunto em português. Desta sorte, conclamo os caros colegas que revisem e reforcem seus conhecimentos sobre pronomes relativos portugueses, a fim de apreender bem este importante conceito em latim.

Observem que em:

  • O homem que eu vi chegou

o que refere-se a homem e é objeto de ver, pois desdobrando a oração, temos: O homem chegou (o qual homem vi).

  • O homem que nos convidou saiu

perceba-se que o pronome que, nessa oração, exerce a função de sujeito, pois ele atua no processo de convidar. Assim, no desdobramento: o homem saiu (o qual homem nos convidou)

  • Os soldados cuja coragem é apreciável já partiram

o pronome cuja indica posse e exige, se for ocaso, a preposição exigida pelo verbo que lhe segue. Logo, pelo desdobramento da oração, vemos que: Os soldados de quem a coragem é apreciável já partiram.

Em português, por esses exemplos, claro está que os pronomes relativos concordam com o conseqüente em gênero e número, no caso de qual e cujo. Já em latim, concordam os relativos com os antecedentes em gênero e número, dependendo a concordância do caso da função sintática que o pronome exerce na oração. Vamos aos fatos:

  • Flores, quorum odor suavissimus est, sunt rosae et violae (as flores cujo odor é o mais suave são as rosas e as violetas)

Perceba-se que quorum concorda em número com flores e exerce a função genitiva em relação a esse termo (as flores das quais o odor...)

  • Non omnes agri, quos ille agricola possidet, fertiles sunt (Nem todos os campos que aquele lavrador possui são férteis)

a forma quos, no masculino plural, concorda com agri, também no masculino plural. A função sintática é objeto direto e, portanto, acusativo, pois agri é complemento verbal em relação a possidet, nesse caso, representado pelo pronome quos.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O MESTRE POE


Edgar Allan Poe foi mais que um poeta e escritor. Prestou-se a ser um anunciador do apocalipse da existência interior, sempre conturbada, assolada por conflitos decorrentes dos vícios, da inaceitação, do desajustamento pessoal à existência. Seus personagens não tinham vida própria. Eram tipos marginalizados, neuróticos, compulsivos, degradados, atormentados por estigmas morais, preconceitos, enfim, nada que chegasse a exaltar o belo; era o criador do feio, do tétrico, do sombrio. Por isso, sempre me atraíram tantos suas obras como sua vida.
Notavelmente, quem é diferente, quem se sobrepõe aos demais, quem foge à vulgaridade reinante no seio da sociedade é estigmatizado pela mesma, tratado como pária, estranhado. Assim era Poe, um típico espectro social, absolutamente avesso ao mundo trivial dos homens. Não devo estranhar, pois, que sinto o mesmo ferrete a marcar-me a pele.
À sua época, ele foi o grande responsável pelo sucesso do Graham's Magazine, primeira das grandes revistas americanas modernas, mensário de maior tiragem em todo o mundo. Crítico mordaz, todavia justo, tinha tanta facilidade em despertar admiração quanto em criar inimigos a cada linha que publicava. Antes disso, havia sido elogiosamente recomendado pelo senado e pelo próprio secretário de guerra à Academia Militar de West Point, reduto da tradicional elite americana. Amigo de Charles Dickens (autor de "Oliver Twist" e "Barnaby Jones"), filho único de uma rica família de comerciantes, estudou nas melhores escolas da costa leste americana, da Escócia e da Inglaterra, onde morou por cinco anos.
Até o dia de sua morte, preparou precioso legado composto de poemas (sua obsessão), contos, críticas, ensaios e artigos que seduziram primeiro o público francês e só depois, ironicamente, americanos e ingleses. Para o argentino Jorge Luís Borges, Poe foi o criador do romance policial como gênero literário, pai de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle e do Hercule Poirot de Agatha Christie, entre todo os outros. Para Charles Baudelaire, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, foi alma gêmea em vida e obra, um exemplo a ser seguido. Júlio Cortázar o tem como marco da literatura norte-americana, um compulsivo criador de personagens intensos.
Foi fonte de inspiração para Mallarmé, Stephen King, Arthur Rimbaud, Paul Valéry, Lautréamont, H.P. Lovecraft, Dostoiévski, Júlio Verne, Apollinaire, espalhando generosamente o brilho de sua contribuição entre sedentos músicos, coreógrafos, quadrinistas e cineastas. O jornalista Ivan Schimdt, seu biógrafo mais recente, confiante na abrangência e universalidade da obra, recomenda um olhar mais atento em sebos e bibliotecas à procura de algum exemplar perdido do mestre. Edgar Allan Poe figura entre os maiores nomes da literatura universal e faz os milhares de nós da evolução humana parecerem ter valido a pena.
A vida do gênio, contudo, não refletiu a glória e o luxo de sua obra. Seus 40 anos de existência lhe reservaram apenas míseros momentos de alegria. Poe foi infeliz, um pária, um deserdado, um abandonado, um viciado, um amante não correspondido, endividado, homem ao qual cabem todos os adjetivos decorrentes da ação do azar e da desgraça. A história tratou deste compulsivo com a mesma injustiça dispensada a outros gênios e só revelou sua importância após a morte, em 1849. Em vida, Poe colecionou reveses e catástrofes íntimas.
Nasceu em 19 de janeiro de 1809, filho de um paupérrimo casal de atores mambembes. O pai David, doente, desapareceu quando o pequeno tinha pouco mais de um ano. A mãe Elizabeth, atriz talentosa e vítima de tuberculose, deixou o jovem órfão antes mesmo de completar os três. Rico exportador de fumo, o casal John e Francis Allan assumiu a tutela do pobre menino e deu ao futuro poeta talvez as únicas oportunidades de sucesso em vida. Apesar do amor de Francis, John e Edgar jamais entraram em acordo: o pai o queria advogado, político e mesmo um comerciante. Poe só pensava na literatura e, desde os 14 ou 15 anos, escondia-se para escrever. Elmira Royster, uma das grandes paixões, surgiu aos seus olhos nesta época.
Aluno de direito na Universidade da Virgínia, aos dezessete anos, Poe dividia-se entre a leitura, a criação e o vício. Desde cedo, mostrava-se fraco para o álcool, além de jogador compulsivo. Em apenas um ano longe da família, suas farras criaram uma dívida de milhares de dólares que, se nunca chegou a ser liquidada, bastou para solidificar as desavenças entre pai e filho. Longe da academia, preferiu fugir de casa e alistar-se com o falso nome de Henry Le Rennét no exército. Fugia, assim, da supervisão paterna, dos credores, do amor esfacelado (Elmira havia de casado) e - talvez exemplo para Sartre, Hemingway e Orwell - encontrava na caserna o tempo para escrever. Seus bons serviços às armas lhe renderam recomendação para West Point, mas o sargento só tinha sentidos para a literatura: como cadete, agüentou lá menos de oito meses.
Nas fases de miséria (elas foram praticamente eternas), Poe se refugiava na casa da tia Maria Clemm, dividindo espaço com a avó paralítica, o irmão igualmente poeta e alcoólatra, a jovem prima e o primo tuberculoso. Nada o impedia de escrever, nada freava a verve para a desgraça. Ao abandonar West Point, reuniu o que lhe sobrava de dinheiro e integridade física (muito pouco), somou ao ímpeto criativo (este, abundante) e investiu na carreira jornalística.
Vagando entre os periódicos de Baltimore, Richmond e New York, Poe iniciou sua fase de sucesso (se é que pode ser assim chamada) como contista e crítico. Sempre em troca de migalhas, estampava clássicos como "O Relato de Arthur Gordon Pym" e "Manuscrito Encontrado Numa Garrafa" nas páginas fugazes dos jornais. Escreveu "A Queda da Casa de Usher", "A Conversa de Eiros e Charmion" e o quase autobiográfico "Willian Wilson" nesse período de relativo reconhecimento.
Aos 23 anos, Poe casava em segredo com a prima Virgínia (sua musa para Annabel Lee, Ligéia, Berenice, Madeline...) de apenas 13 anos. Afundava-se cada vez mais no rum e na morfina, atirava-se como suicida às festas, saraus e noitadas, mas ainda mantinha o pulso com boa caligrafia, o cérebro critico e o vocabulário ferino. Lançou, entre 1831 e 1848, além do já citado "Relato", obras definitivas como "Tales of Grotesque and Arabesque" traduzido por Baudelaire para “Histórias Extraordinárias” título pelo qual ficou conhecida a obra em português, "Romances em Prosa", "Eureka, Um Poema em Prosa" e o eterno "O Corvo e Outros Poemas".
O estilo de Poe voltava-se para o crime investigativo, o terror mórbido e sombrio, e sua beleza e estilo literário são considerados ímpares na literatura mundial. Um escritor, um poeta, que, às vezes, em poucas linhas apenas conseguiu criar obras primas como o conto intitulado: "A Máscara da Morte Rubra", uma de suas mais aclamadas obras.
Em 1847, a bela Virgínia morre depois de longo tempo de sofrimento e Poe começa manifestar os primeiros sintomas de desgaste físico: problemas coronarianos e cérebro lesado pelos aditivos punham o poeta sob constante supervisão médica. Como os pais verdadeiros, o jornalista fazia das viagens uma necessidade constante da profissão e, num destes deslocamentos de barco rumo a Philadelphia, desceu em Baltimore, certamente embriagou-se , caiu doente numa calçada e morreu, praticamente sozinho. Os médicos haviam advertido do perigo de voltar ao copo, mas nem mesmo o casamento já anunciado com o amor da adolescência, Elmira, colocou o indomável sob as amarras do bom comportamento. Mesmo ao morrer, Poe foi um infeliz. A ironia do destino fez com que o homem que passou a vida sob as sombras, retratando-as com inigualável maestria, passou a brilhar apenas após a morte, quando as brumas que arquitetou se espalharam pelo mundo e, ao contrário das tristezas que as deram gênese, transformaram-se em luz criativa.

terça-feira, 12 de junho de 2007

O habito

Como todos os dias dos quais vivi do seu início ao seu fim, acordo... Como todos os dias, nasço com o Sol, o vejo subindo em velocidade milimétrica e já me encontro em pé, cego, meio burro... O hábito se apossa, leva-me ao banheiro, leva-me com pressa e mecanicidade, me leva aos passos do compromisso, leva-me por puro egoísmo, mas me leva... Sento para a janela, o céu escuro começa a se consumir, o róseo consome o negro, e milhões de espaços noturnos são possuídos pelo velho fogo... Não havia céu, era a estrela que se alimentava de toda vida terrestre, e eu tomando o primeiro porre do dia, o primeiro urro do dia, o primeiro desejo... Sim, era destruição! Mas o hábito de tão possesso comandava-me para o enterro, vesti-me soturnamente, vesti-me fúnebre, quase de ironia, e a falta de tempo gritou à pressa... Pressa! Pressa!! Café frio e larguei-me pelo mundo. Já estava na escada quando senti as badaladas da igreja: 06:00! Avançando no concreto, freneticamente, como uma bala, como um estorvo, sem limite, sem perspectiva, avançando para o destino...O tempo pela manhã me parece sempre como uma pequena discussão silenciosa. Todos estão como eu, mecânicos, entristecidos, mas exatos, uns jogando-se contra outros por espaço, por calma, por vaidade e assim começa o movimento viciado, olhares mortos, olhares mortos! Fecho os meus e ouço a respiração ritmada, um estalo, e o pigarro inicia a inquietação...Os homens são movidos de terreno em terreno, eu,eu,eu,eu me perco momentaneamente numa imagem: a criança está sorrindo; está rindo de sua viagem, rindo desse cinza nosso, rindo de tudo, menos dela, ela brilha intensamente e por minutos desconstroi a mentira que chamamos de vida/opção-vida. Mas esse espasmo, não me liberta do hábito - sorrio para criança -, quase por desdém... Continuo, continuamente, re-interado do dever, de ir, de estar, de viver, de mentir, de passar... ar... ar... No caminho, reconheço ninguém, todos são estranhos, todos estão como eu, indo. O sorriso ainda me desconcerta,sinto aquele mal estar de estar junto de tantos outros como eu: humanos. Percebo dentro de mim milhões de estados, um possuindo outro: nojo dissolve náusea; neurose se aglomera em tontura, ressoando em dor, dor,dor; sinto o peso do hábito me controlando – já eram 07:00 – o sorriso ri da hora, ri desse estado, ri do hábito, ri de toda neurose humana, o sorriso ri puramente...Estanco na calçada, sou uma estaca entre tantos homens, não existe nenhum sentimento, nenhuma sensibilidade, o que existe é a culminação de toda minha interioridade para com o mundo: vomito! Por hábito abaixo a cabeça, faço quase uma reverência para o chão, sinto a bile latejando, sinto o fígado estragado, sinto o sorriso sendo feito no encharco de vômito ao contado do asfalto, ele era o sinal que existo- esse impulso irônico em mim? Seria aquele sorriso um convite? O guarda mais próximo chama a minha atenção, pergunta-me “ Sr. há algum problema?”, por hábito digo que não, nego um prazer cristão ao guarda, nego por complacência. Passo assim por uma rua qualquer, o sol agora embandeirado pelo céu anuncia um dia quente, anuncia que irei pingar, anuncia fedores, anuncia outros horrores, anuncia para o contínuo da procissão... Algo me chama ao passar por um beco, não era o verde reluzente do beiral de sua calçada, nem o bêbado caído, nem a curiosidade aflorando, algo quase instintivo, algo prometendo um alívio, algo simples e fugaz! Algo como o sorriso... Me desloco sem hesitação para a fenda, vou para o lado do Sol...

Era manhã, e já se passaram quase nove horas desde que tudo começou, aquele hábito já me repugna, lembro-me agora para sentir tudo e tudo no qual já desejei e passei um dia, preciso me sentir feliz, infeliz, preciso sentir sujo, sujo, preciso lembrar, lembrar para esquecer, esquecer e me amar... amar..

O Sol... Não havia nada mais belo que o sol no beco, ele cegava a minha consciência, ele com toda sua força, me rachava ao meio, e aos poucos – cego – fui para a sombra da única sacada, por instinto respirei buscando alívio, e senti um úmido ar se impregnar nos meus pulmões... Imaginei assim, um fauno jardim, impecavelmente verde, impecável por ser verde, impecável por enfrentar a ira radiosa, imaculado por resistir no vento e ser ar fresco. Abro os olhos - vejo um jardim cuidado sem maiores alardes e uma grande corrente de água jorrando- me concentro na corrente, o seu som me consome, fisguei uma fuga para o hábito, pelo visto – penso – ainda tenho meu lado animal não-domesticado... A visão era água, o ar era água, meu tato suava em água e minha mente fluía. Não tenho certeza de tempo, sei apenas que saciei do transe por uma convulsão, também não sei se havia sido um empurrão ou o hábito exigindo de uma posição mais passiva... Acordo... Acordo... Mas não sou passivo, sigo adentro do beco... Aquele sol está preso pelas nuvens, parece-me tosca a sua luminosidade, é uma cena trágica e cômica ao mesmo tempo... Sigo em frente... Cauteloso... Sutil... Sigo simplesmente... Tombo assim a idéia (NÃO!), palavra (NÃO!!), expressão (NÃO!!!), acusação (NÃOOO!)... Na parede encontrei o maior engano do homem... Signado: AMOR. Numa parede de três metros, reproduzida em milhões de amores vermelhos e brancos, era obsceno a quantidade de amor concentrado, amor dopante, amor chocante, amor mitigante, amor por amor. Não pensei em mais nada: A-MO-ORRRR... Recusei a palavra, recusei por hábito, recusei amar! Disso corri até o fim-início do beco, imaginei indo em direção ao sorriso. Imaginei-o me dizendo: Amor; então fugi. O hábito em seu estado de choque me exigia controle pleno, controle cronológico, controle hermético, exigia-me possessão – mas não acontecia - ... O amor violava a presença, me machucava, aquele sorriso era o sinal dessa minha lástima, o sorriso me amava! Senti uma dor desumana... Eu era então amado, era... Era desalmado, era... Era amalgamado, era... Virei reticência, por eras, por eras...Não via mais senão amor, senti o suor amando minha pele, numa orgia sem fim, era amor carnal, banal, pueril, era tudo! O mendigo amava o chão com seu corpo, e a sombra sob seu rosto o amava, ignorando o seu odor, o trânsito era o amor produzido instantaneamente, cada passo, cada grito, cada encostão, era o jeito humano de se amarem, havia uma guerra imensa nos meus olhos, mas tudo era amor se resumindo no infinito, no atemporal, demasiadamente... Por hábito ficaria em choque, mas não! Fui ao bar, larguei o blazer em cima do chão - percebi o desejo do chão pelo blazer - e quando ia terminar o pensamento, fui esbarrado... Sim, era uma pausa dessa psicose, foi todo tempo necessário para buscar o bar, para me assegurar da alteridade, para me concretizar sujeito necessitava de distorção... Aquilo que entendia por hábito me forçou a parar no terceiro boteco e em contradição, o terceiro me pareceu ser o mais sujo. Fiquei feliz...No bar sentei tonto, pronunciei três palavras inadvertidas: whisky seu garçom! Três palavras que se foram repetindo sem fim, – e para minha surpresa – o hábito pedia seu porre: ele quer gim – é claro que o garçom não entendeu.Tudo em primeiro instante passeava desconexo por todos os lados: a faxineira desbotava ao virar os meus olhos; whisky e gim se pareciam formidavelmente; e o garçom virou barman e isso era mais do que gozado... Tentei assim sentir o local... Mas nada me chamava, nada me hipnotizava, nem o som, nem a puta que se esgueirava no bar, nada, tudo me parecia simplificado, uma calma de sala de espera de hospital... Nada, uma brancura foi se aglomerando ao nada e desse nada veio uma vontade sádica de dor, e quase senti aquilo... Aquele a...

Acordo num quarto, nu, e cheio de marcas, sinto dores em todo corpo, sinto dormência e vejo o relógio: 15:00! – a compulsão re-iniciava -
...
Moreno B.

Rio de Janeiro – 30.12.2005

quinta-feira, 7 de junho de 2007

3ª Declinação

Tratará a próxima lição de latim da 3ª declinação, a mais importante por ser a mais variada, incluindo nomes de todos os gêneros com terminações distintas.
Antes de ir aos casos dessa declinação, é importante o conhecimento de dois tipos de palavras que entram nessa declinação: palavras parissílabas e palavras imparissílabas.

Palavras parissílabas são as que apresentam igual número de sílabas no nominativa e nos demais casos: (par = igual)

nom. genitivo dativo ablativo acusativo

auris auris auri aure aurem


Perceba-se que o número de sílabas é o mesmo, ao longo dos casos, mantendo-se essa regularidade tb no plural.

Palavras imparissílabas são as que têm diferente número de sílabas entre o nominativo e os casos: (impar: desigual)

nom. genitivo dativo ablativo acusativo

dux ducis duci duce ducem

Há uma diferença de números de sílabas entre o nominativo e os demais casos que tb mantém -se no plural. Acresça-se que o vocativo não foi citado por conservar o mesmo número de sílabas do nominativo, embora apresente terminação diversa da do nominativo em alguns exemplos.


Algumas particularidades devem ser observadas na 3ª declinação:

  • o genitivo singular termina em -is;
  • o genitivo plural apresenta duas terminações que não se usam indiferentemente -um e -ium;
  • Algumas palavras têm terminação do dativo, ablativo e acusativo diferente das do paradigma.

Segue aí o quadro paradigmático da 3ª declinação:

SINGULAR
Nominativo - várias terminações
Vocativo - idem
Genitivo - is
Dativo - i
Ablativo - e
Acusativo - em

PLURAL
Nominativo -es
Vocativo - es
Genitivo - um ou ium
Dativo - ibus
Ablativo - ibus
Acusativo - es


EXEMPLO: Homo (homem)

Nom. homo Nom. homines
Voc. homo Voc. homines
Gen. hominis Gen. hominum
Dat. homini Dat. homibus
Abla. homine Abla. hominibus
Acus. hominem Acus. homines

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Ausência

Já foi citado antes um tema que muito me chama atenção: ausência! Por isso pensei em traçar um paralelo com Vinícius, no texto abaixo, onde a abordagem do termo é feita sob diferente óptica.


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço e eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas, serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinícius de Moraes

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Caro amigo Ausente,

Diante de sua insistência para saber como anda minha nova rotina depois que entrei na universidade, resolvi te escrever. Foi delicadeza para minha alma receber notícias tuas.

A vida passa e não carrega consigo a impressão de que qualquer gesto é tentativa de preencher o tempo. O imperativo do mundo não mais ordena, ele agora sugere (tenha boa conduta, seja ético, compre caráter). São apenas sutilezas, você sabe como essas coisas são. Ande devagar e na linha. Ande ébrio para conseguir se equilibrar na linha do horizonte. Eu aprisionei o tempo em um copo de vinho.

Tenho ido constantemente à lanchonete do CHLA só para ter a sensação de voltar todos os dias aos anos 70, regressar a um passado do qual não fiz parte. Sento numa daquelas arcaicas cadeiras e fico olhando para as velhas fotografias de sanduíches e para a desfigurada tabela de preços em cima do balcão. Sinto-me Marcélia Cartaxo interpretando Macabéa no filme A Hora da Estrela, em plena efervescência do Rio do início dos anos 80.

Sabe, meu amigo, ainda não esqueci o Rio de Janeiro, com suas árvores centenárias testemunhando o cotidiano de cada um de nós em Vila Isabel; do Rio com cheiro de pães frescos da manhã se amalgamando à fumaça dos carros, que cedo acordam a cidade (como se ela dormisse!). Sinto falta dos prédios antigos da Tijuca, diante dos quais eu parava para observar as pequenas janelas e a pintura simples. A obsoleta arquitetura nem contemplava os azulejos, e eu adorava enxergar aqueles prédios crus, despidos de ladrilhos coloridos. A ausência de varandas me extasiava. Varandas sempre são meios-termos entre o nosso lar mais interior e a concha que abriga o mundo – e eu não gosto de meios-termos.

Termos pela metade, expressões inacabadas, palavras rabiscadas em pedaços de papel. É assim como o movimento se congela no frenesi de meu cotidiano. Nesses últimos tempos, por mais estranho que isso lhe pareça, tenho ido à UFAL para voltar ao passado por meio daquela obsoleta lanchonete e para ver o crepúsculo da janela em frente à sala em que estudo. Vez por outra, fricciono-me contra o vidro e fico tentando imaginar aquela paisagem, com seus campos maltratados recebendo os últimos raios de sol, sendo vista por Genet. Talvez eu faça analogia do ocaso da UFAL ao escritor francês porque a história de vida dele tem os mesmos contrastes daquele lugar. Os campos achacados são os reformatórios e prisões por onde passou o filho de uma meretriz com um desconhecido; o pôr-do-sol, as obras do andarilho que escreveu suas reminiscências em “Diários de um Ladrão”.

Hoje eu penso que cada um de nós somos um pouco ladrões de nós mesmos, pois de alguma forma roubamos uma parte de nós a cada dia. Alguns fazem com violência exposta; outros, com terrível delicadeza. Só agora, no fastígio de minha mocidade, tomo grande consciência de que Genet, Rimbaud, Ginsberg, Kerouac e tantos outros malditos foram mais ladrões do que nós, porque eles roubaram de si mesmos, de suas essências para nos oferecê-las. O mundo não soube recompensá-los. Se eles pecaram por terem doado demais de si, pecamos porque não sabemos o que fazer com os pedaços que arrancamos de nós.

Já faz um bom tempo que a Arte vem suprindo meu vazio existencial, ou o encobrindo de mim. Mas finda o momento em que esse disfarce tem dado certo. Eu sou uma solitária pintora de letras. Em cada palavra pintada, a precisão de minhas incertezas, de meu consolo. Eu vivo em potes de tinta, beijando cores e formas que se contrastam com o mundo que cospe a aspereza da realidade. Talvez seja acreditando que estamos dentro de uma imensa bolha de ficção que eu consigo mascar chicle sem me preocupar com a falta de elasticidade desses dias.

Ultimamente, as inquietações e insatisfações parecem estar nos outdoors que olho de dentro do ônibus; parecem se revelar ao mundo em néons espalhados por toda cidade, quando, na verdade, só eu os enxergo. Os ônibus que tomo todos os dias tomam de minha paciência e parecem dirigir minha vida mais do que eu.

Pelo caminho de volta da universidade, vou deixando em cada rua um pouco de minha exaustão. Escancaro-me às ruas para não me enclausurar em minhas avenidas interiores. Tento aprender com o asfalto a ser mais dura com o mundo – o único jeito que encontrei até hoje de defender minha sensibilidade.

Chego. Moro em um prédio que não tem porteiro. Abro e fecho dois cadeados todos os dias. Há dez anos que abro e fecho os mesmos cadeados e só hoje me dei conta que são duas grades que me constroem. Quando eu abro os cadeados, transponho as grades de maneira citadina, lanço-me às ruas e sigo caminhos é que sou alguém. Faço questão de deixar nos compartimentos de meu apartamento aqueles pedaços que arranco de mim todos os dias e que me tornam ladra de mim – eles dizem quem eu sou sem que eu precise ser apenas alguém.

Hoje, quando cheguei da universidade, não acendi a luz; apenas joguei na mesa os livros e a bolsa, tirei o tênis e encostei na parede um vaso de plantas. Liguei o som, Joni Mitchell, claro... E assim finda mais um dia, com estrelas que observo da varanda (sim, aqui raros são os apartamentos sem varandas) me dizendo: "seus olhos estão cheios de lua: brilham, mas precisam de olhos alheios para receber a luz que espalham". Apenas respondo para quem quiser ouvir: "tenha-me, por favor, tenha-me como eu sou".


Grito
na calada da noite dos mudos com voz.

Desvelo,

Presente Ausência.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

ALEA IACTA SIT !!!

Cá está o nosso sítio em que deitaremos nossas elucubrações, pontos de vista e até devaneios sobre a arte, a literatura, a lingüística e quaisquer outras formas de conhecimento sobre o mundo, muito embora julgo que a literatura terá demasiada ênfase aqui, por razões que dispensam aprofundamento, mas vale dizer que a lingüística costuma ser indigesta para muitos desavisados que entram no curso esperando teorizações gramaticais e retóricas ou para uns tantos que evitam as habilitações em língua estrangeira em função da pouca aceitação no mercado.
É fundamental, no entanto, a participação engajada, consciente e crítica que expresse claramente o não-imobilismo de nossos graduandos perante as atuais abordagens do conhecimento produzido no ambiente acadêmico e geral.
Tomei a liberdade de escolher um símbolo para este blogue. Como houve muita pessoalidade na sua escolha, admito ser ele passível de substituição em havendo um consenso a respeito de outro que julguem conveniente. No entanto, antes desse consenso, se houver, apresento Calíope, a musa da poesia épica, da ciência e da eloqüência, tida como a mais velha e mais sábia das musas antigas. Minha verve clássica que não raro influencia-me as decisões no que tange a símbolos, nomes e representações logrou-me convencer. E dou-vos assim essa figura que considero uma das mais belas da mitologia clássica que é representada como uma jovem de ar imponente e dominador, sentada numa postura de reflexão e com a cabeça descansada numa das mãos e, na outra, um livro junto ao qual há mais três, que são a Ilíada, a Odisséia e a Eneida. Essa é uma das formas mais comuns com que costumam representá-la.
Insta-me que anime a todos os participantes e aqueles que coxeiam em participar com um brocardo latino que muito felizmente traduz a arduidade de se ter uma formação que se julgue, com certa concessão, completa, haja vista o cada vez mais especializado e competitivo preparo que os tempos demandam:

LITTERATUM RADICES AMARAS, FRUCTUS DULCES

Ou seja, as raízes da cultura são amargas, mas doces são seus frutos. O aprendizado é árduo, demanda uma diligência que não raro se choca com as necessidades mais inerentes à sobrevivência e à vaidade vulgar num mundo banalizado e corrompido pelo capitalismo. A máxima latina exprime justamente o resultado de se triunfar e elevar-se acima dessa banalidade, para fruir os louros do conhecimento, mas conhecimento, acresço, que é transformação e produz transformação e não apenas assimilado mecanicamente. Isaac Newton, certa feita, afirmou que "se consegui chegar tão longe é por que estive amparado em ombros de gigantes", isso diz perfeitamente do conhecimento absorvido por transformação e que gerou transformação.


Ite, amici, quia sic itur ad astra!!!