quarta-feira, 27 de junho de 2007

PRIDE AND PREJUDICE, by Jane Austen

“Vanity and pride are different things, though the words are often used synonymously. A person may be proud without being vain. Pride relates more to our opinion of ourselves; vanity, to what we would have others think us.”
Jane Austen
INTRODUCTION

“Pride and Prejudice”, by Jane Austen, was her most popular novel, published on 28 January 1813 and it is one of the first romantic comedies in history, which received initially the name of First Impressions, but it was never published under that title. However both of them relate mainly to Elizabeth’s and Darcy’s misunderstandings when they got acquainted. The success of the book is probably due to the unusual relationship established between the main characters, the haughty Mr. Darcy, who has inspired many other stories, and Miss Elizabeth, a headstrong girl who attracts readers for her liveliness, as well as the ironies always present in their conversations.

PLOT SUMMARY

The story begins with, perhaps, the most famous phrase of English literature: It is a truth universally acknowledged that a single man in possession of a good fortune must be in want of a wife, which provides a first thought on what the book is about. Mr. and Mrs. Bennet have five daughters, Jane, Elizabeth, Catherine, Lydia and Mary, and since the eldest was sixteen, the woman’s main object is marriage. She turned in great enthusiasm by the arrival of a young quite rich single man, Mr. Bingley, who was temporarily in the state with his friend, Mr. Darcy, two sisters, Miss Bingley and Mrs. Hurst, as well as her husband. They attend a ball in town and meet the Bennets. Bingley dances with Jane and many other girls, then suggests that Darcy dances with Elizabeth, but he refuses it. Darcy did it only twice with his friend’s sisters, “declined being introduced to any other lady and spent the rest of the evening in walking about the room, speaking occasionally to one of his own party” (p. 11), therefore, people from Netherfield found him “at the same time haughty, reserved, and fastidious, and his manners, though well bred, were not inviting” (p. 15). Besides, when he was asked about Elizabeth’s beauty, Darcy said she was tolerable. On the other hand, Bingley proved to be very agreeable.

Soon after the ball, Mr. Collins, Mr. Bennet’s cousin, who would inherit his property, visits the family to marry one of the girls. Once his patroness, Lady Catharine de Bourgh, said he had to find a wife. He chooses Elizabeth, but she does not accept the proposal, even though her mother insists on this. In the meantime, she meets Mr. Wickham, a handsome and charming young officer. He informs her he knows Mr. Darcy since they were children and tells her his story which creates a prejudice against the haughty man.

After Elizabeth’s refusal, Mr. Collin marries her friend, Charlotte Lucas. Some time later, the new couple invite Miss Bennet to visit them. But Mr. Darcy also goes to Rosings to see his aunt, Lady Catharine. So Elizabeth and he meet each other everyday and this leads to a change in Darcy’s feelings for her. Until one day, he declares his love and she refuses it by saying he insulted her family, separated her “most beloved sister” from the man she loved and caused Mr. Wickham’s misfortunes. The next day, he gives a letter explaining everything he had done and the situation with Wickham. This brought about Eliza another opinion of Mr. Darcy.

Many weeks later, she travels with the Gardiners, her aunt and uncle. They reach Darcy’s state, Pemberly, whiles he is not at home. But he comes back one day before and they meet each other unexpectedly. Surprisingly, he acts thoroughly different: talks to her and her family politely. He manages to change Elizabeth’s bad opinions of him and presents her to his sister, Georgiana.

When Darcy and Elizabeth start to get along well, she receives a letter from Jane saying Lydia eloped with Wickham. She cries in front of Darcy and tells him everything, returning home the same day. They discover Wickham has gambling debts and does not intend to marry Lydia. Mr. Darcy pays everything to make him marry Elizabeth’s sister, but keeps Eliza and her family unaware of everything

Lady Catherine finds out her nephew’s proposal to Lizzy and inquires her if that might be true. As Miss Bennet gives her evasive answers, the lady goes back home and tells her nephew what happened in Hertfordshire. He realizes there is a possibility of marrying Elizabeth. The story ends with two engagements: Mr. Darcy and Elizabeth and Mr. Bingley with Jane and Kitty’s and Mary’s change of behavior.


AUTHOR’S BIOGRAPHY

Jane Austen was born on 16 December 1775, in Hampshire. Her parents were the Reverend George Austen and Cassandra. In the beginning, she was educated at home and, as a child, wrote comic stories. The first mature work was a novella – Lady Susan. In her twenties, she wrote the novels Sense and Sensibility and Pride and Prejudice.

After her father’s death, she, her sister and her mother moved to Chawton Cottage and this was her most productive period. Sense and Sensibility, Pride and Prejudice, Mansfield Park and Emma were published that time. When she finished Persuasion, however, her health began to fail. This one and Northanger Abbey were published at the same time.

She died on 28 July 1817, but her books have never been out of print and are often included on lists of readers' favorites. One believes that she died from Addison’s disease.



HOPE YOU ENJOY IT!!

>> Read the novel in English <<

>> Read the novel in Spanish <<

>> Read the novel in Portuguese <<


domingo, 24 de junho de 2007

PRONOMES RELATIVOS LATINOS

Reiterando as palavras de Napoleão Mendes de Almeida, a explicação e compreensão desta classe de pronomes exige perfeito conhecimento do assunto em português. Desta sorte, conclamo os caros colegas que revisem e reforcem seus conhecimentos sobre pronomes relativos portugueses, a fim de apreender bem este importante conceito em latim.

Observem que em:

  • O homem que eu vi chegou

o que refere-se a homem e é objeto de ver, pois desdobrando a oração, temos: O homem chegou (o qual homem vi).

  • O homem que nos convidou saiu

perceba-se que o pronome que, nessa oração, exerce a função de sujeito, pois ele atua no processo de convidar. Assim, no desdobramento: o homem saiu (o qual homem nos convidou)

  • Os soldados cuja coragem é apreciável já partiram

o pronome cuja indica posse e exige, se for ocaso, a preposição exigida pelo verbo que lhe segue. Logo, pelo desdobramento da oração, vemos que: Os soldados de quem a coragem é apreciável já partiram.

Em português, por esses exemplos, claro está que os pronomes relativos concordam com o conseqüente em gênero e número, no caso de qual e cujo. Já em latim, concordam os relativos com os antecedentes em gênero e número, dependendo a concordância do caso da função sintática que o pronome exerce na oração. Vamos aos fatos:

  • Flores, quorum odor suavissimus est, sunt rosae et violae (as flores cujo odor é o mais suave são as rosas e as violetas)

Perceba-se que quorum concorda em número com flores e exerce a função genitiva em relação a esse termo (as flores das quais o odor...)

  • Non omnes agri, quos ille agricola possidet, fertiles sunt (Nem todos os campos que aquele lavrador possui são férteis)

a forma quos, no masculino plural, concorda com agri, também no masculino plural. A função sintática é objeto direto e, portanto, acusativo, pois agri é complemento verbal em relação a possidet, nesse caso, representado pelo pronome quos.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O MESTRE POE


Edgar Allan Poe foi mais que um poeta e escritor. Prestou-se a ser um anunciador do apocalipse da existência interior, sempre conturbada, assolada por conflitos decorrentes dos vícios, da inaceitação, do desajustamento pessoal à existência. Seus personagens não tinham vida própria. Eram tipos marginalizados, neuróticos, compulsivos, degradados, atormentados por estigmas morais, preconceitos, enfim, nada que chegasse a exaltar o belo; era o criador do feio, do tétrico, do sombrio. Por isso, sempre me atraíram tantos suas obras como sua vida.
Notavelmente, quem é diferente, quem se sobrepõe aos demais, quem foge à vulgaridade reinante no seio da sociedade é estigmatizado pela mesma, tratado como pária, estranhado. Assim era Poe, um típico espectro social, absolutamente avesso ao mundo trivial dos homens. Não devo estranhar, pois, que sinto o mesmo ferrete a marcar-me a pele.
À sua época, ele foi o grande responsável pelo sucesso do Graham's Magazine, primeira das grandes revistas americanas modernas, mensário de maior tiragem em todo o mundo. Crítico mordaz, todavia justo, tinha tanta facilidade em despertar admiração quanto em criar inimigos a cada linha que publicava. Antes disso, havia sido elogiosamente recomendado pelo senado e pelo próprio secretário de guerra à Academia Militar de West Point, reduto da tradicional elite americana. Amigo de Charles Dickens (autor de "Oliver Twist" e "Barnaby Jones"), filho único de uma rica família de comerciantes, estudou nas melhores escolas da costa leste americana, da Escócia e da Inglaterra, onde morou por cinco anos.
Até o dia de sua morte, preparou precioso legado composto de poemas (sua obsessão), contos, críticas, ensaios e artigos que seduziram primeiro o público francês e só depois, ironicamente, americanos e ingleses. Para o argentino Jorge Luís Borges, Poe foi o criador do romance policial como gênero literário, pai de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle e do Hercule Poirot de Agatha Christie, entre todo os outros. Para Charles Baudelaire, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, foi alma gêmea em vida e obra, um exemplo a ser seguido. Júlio Cortázar o tem como marco da literatura norte-americana, um compulsivo criador de personagens intensos.
Foi fonte de inspiração para Mallarmé, Stephen King, Arthur Rimbaud, Paul Valéry, Lautréamont, H.P. Lovecraft, Dostoiévski, Júlio Verne, Apollinaire, espalhando generosamente o brilho de sua contribuição entre sedentos músicos, coreógrafos, quadrinistas e cineastas. O jornalista Ivan Schimdt, seu biógrafo mais recente, confiante na abrangência e universalidade da obra, recomenda um olhar mais atento em sebos e bibliotecas à procura de algum exemplar perdido do mestre. Edgar Allan Poe figura entre os maiores nomes da literatura universal e faz os milhares de nós da evolução humana parecerem ter valido a pena.
A vida do gênio, contudo, não refletiu a glória e o luxo de sua obra. Seus 40 anos de existência lhe reservaram apenas míseros momentos de alegria. Poe foi infeliz, um pária, um deserdado, um abandonado, um viciado, um amante não correspondido, endividado, homem ao qual cabem todos os adjetivos decorrentes da ação do azar e da desgraça. A história tratou deste compulsivo com a mesma injustiça dispensada a outros gênios e só revelou sua importância após a morte, em 1849. Em vida, Poe colecionou reveses e catástrofes íntimas.
Nasceu em 19 de janeiro de 1809, filho de um paupérrimo casal de atores mambembes. O pai David, doente, desapareceu quando o pequeno tinha pouco mais de um ano. A mãe Elizabeth, atriz talentosa e vítima de tuberculose, deixou o jovem órfão antes mesmo de completar os três. Rico exportador de fumo, o casal John e Francis Allan assumiu a tutela do pobre menino e deu ao futuro poeta talvez as únicas oportunidades de sucesso em vida. Apesar do amor de Francis, John e Edgar jamais entraram em acordo: o pai o queria advogado, político e mesmo um comerciante. Poe só pensava na literatura e, desde os 14 ou 15 anos, escondia-se para escrever. Elmira Royster, uma das grandes paixões, surgiu aos seus olhos nesta época.
Aluno de direito na Universidade da Virgínia, aos dezessete anos, Poe dividia-se entre a leitura, a criação e o vício. Desde cedo, mostrava-se fraco para o álcool, além de jogador compulsivo. Em apenas um ano longe da família, suas farras criaram uma dívida de milhares de dólares que, se nunca chegou a ser liquidada, bastou para solidificar as desavenças entre pai e filho. Longe da academia, preferiu fugir de casa e alistar-se com o falso nome de Henry Le Rennét no exército. Fugia, assim, da supervisão paterna, dos credores, do amor esfacelado (Elmira havia de casado) e - talvez exemplo para Sartre, Hemingway e Orwell - encontrava na caserna o tempo para escrever. Seus bons serviços às armas lhe renderam recomendação para West Point, mas o sargento só tinha sentidos para a literatura: como cadete, agüentou lá menos de oito meses.
Nas fases de miséria (elas foram praticamente eternas), Poe se refugiava na casa da tia Maria Clemm, dividindo espaço com a avó paralítica, o irmão igualmente poeta e alcoólatra, a jovem prima e o primo tuberculoso. Nada o impedia de escrever, nada freava a verve para a desgraça. Ao abandonar West Point, reuniu o que lhe sobrava de dinheiro e integridade física (muito pouco), somou ao ímpeto criativo (este, abundante) e investiu na carreira jornalística.
Vagando entre os periódicos de Baltimore, Richmond e New York, Poe iniciou sua fase de sucesso (se é que pode ser assim chamada) como contista e crítico. Sempre em troca de migalhas, estampava clássicos como "O Relato de Arthur Gordon Pym" e "Manuscrito Encontrado Numa Garrafa" nas páginas fugazes dos jornais. Escreveu "A Queda da Casa de Usher", "A Conversa de Eiros e Charmion" e o quase autobiográfico "Willian Wilson" nesse período de relativo reconhecimento.
Aos 23 anos, Poe casava em segredo com a prima Virgínia (sua musa para Annabel Lee, Ligéia, Berenice, Madeline...) de apenas 13 anos. Afundava-se cada vez mais no rum e na morfina, atirava-se como suicida às festas, saraus e noitadas, mas ainda mantinha o pulso com boa caligrafia, o cérebro critico e o vocabulário ferino. Lançou, entre 1831 e 1848, além do já citado "Relato", obras definitivas como "Tales of Grotesque and Arabesque" traduzido por Baudelaire para “Histórias Extraordinárias” título pelo qual ficou conhecida a obra em português, "Romances em Prosa", "Eureka, Um Poema em Prosa" e o eterno "O Corvo e Outros Poemas".
O estilo de Poe voltava-se para o crime investigativo, o terror mórbido e sombrio, e sua beleza e estilo literário são considerados ímpares na literatura mundial. Um escritor, um poeta, que, às vezes, em poucas linhas apenas conseguiu criar obras primas como o conto intitulado: "A Máscara da Morte Rubra", uma de suas mais aclamadas obras.
Em 1847, a bela Virgínia morre depois de longo tempo de sofrimento e Poe começa manifestar os primeiros sintomas de desgaste físico: problemas coronarianos e cérebro lesado pelos aditivos punham o poeta sob constante supervisão médica. Como os pais verdadeiros, o jornalista fazia das viagens uma necessidade constante da profissão e, num destes deslocamentos de barco rumo a Philadelphia, desceu em Baltimore, certamente embriagou-se , caiu doente numa calçada e morreu, praticamente sozinho. Os médicos haviam advertido do perigo de voltar ao copo, mas nem mesmo o casamento já anunciado com o amor da adolescência, Elmira, colocou o indomável sob as amarras do bom comportamento. Mesmo ao morrer, Poe foi um infeliz. A ironia do destino fez com que o homem que passou a vida sob as sombras, retratando-as com inigualável maestria, passou a brilhar apenas após a morte, quando as brumas que arquitetou se espalharam pelo mundo e, ao contrário das tristezas que as deram gênese, transformaram-se em luz criativa.

terça-feira, 12 de junho de 2007

O habito

Como todos os dias dos quais vivi do seu início ao seu fim, acordo... Como todos os dias, nasço com o Sol, o vejo subindo em velocidade milimétrica e já me encontro em pé, cego, meio burro... O hábito se apossa, leva-me ao banheiro, leva-me com pressa e mecanicidade, me leva aos passos do compromisso, leva-me por puro egoísmo, mas me leva... Sento para a janela, o céu escuro começa a se consumir, o róseo consome o negro, e milhões de espaços noturnos são possuídos pelo velho fogo... Não havia céu, era a estrela que se alimentava de toda vida terrestre, e eu tomando o primeiro porre do dia, o primeiro urro do dia, o primeiro desejo... Sim, era destruição! Mas o hábito de tão possesso comandava-me para o enterro, vesti-me soturnamente, vesti-me fúnebre, quase de ironia, e a falta de tempo gritou à pressa... Pressa! Pressa!! Café frio e larguei-me pelo mundo. Já estava na escada quando senti as badaladas da igreja: 06:00! Avançando no concreto, freneticamente, como uma bala, como um estorvo, sem limite, sem perspectiva, avançando para o destino...O tempo pela manhã me parece sempre como uma pequena discussão silenciosa. Todos estão como eu, mecânicos, entristecidos, mas exatos, uns jogando-se contra outros por espaço, por calma, por vaidade e assim começa o movimento viciado, olhares mortos, olhares mortos! Fecho os meus e ouço a respiração ritmada, um estalo, e o pigarro inicia a inquietação...Os homens são movidos de terreno em terreno, eu,eu,eu,eu me perco momentaneamente numa imagem: a criança está sorrindo; está rindo de sua viagem, rindo desse cinza nosso, rindo de tudo, menos dela, ela brilha intensamente e por minutos desconstroi a mentira que chamamos de vida/opção-vida. Mas esse espasmo, não me liberta do hábito - sorrio para criança -, quase por desdém... Continuo, continuamente, re-interado do dever, de ir, de estar, de viver, de mentir, de passar... ar... ar... No caminho, reconheço ninguém, todos são estranhos, todos estão como eu, indo. O sorriso ainda me desconcerta,sinto aquele mal estar de estar junto de tantos outros como eu: humanos. Percebo dentro de mim milhões de estados, um possuindo outro: nojo dissolve náusea; neurose se aglomera em tontura, ressoando em dor, dor,dor; sinto o peso do hábito me controlando – já eram 07:00 – o sorriso ri da hora, ri desse estado, ri do hábito, ri de toda neurose humana, o sorriso ri puramente...Estanco na calçada, sou uma estaca entre tantos homens, não existe nenhum sentimento, nenhuma sensibilidade, o que existe é a culminação de toda minha interioridade para com o mundo: vomito! Por hábito abaixo a cabeça, faço quase uma reverência para o chão, sinto a bile latejando, sinto o fígado estragado, sinto o sorriso sendo feito no encharco de vômito ao contado do asfalto, ele era o sinal que existo- esse impulso irônico em mim? Seria aquele sorriso um convite? O guarda mais próximo chama a minha atenção, pergunta-me “ Sr. há algum problema?”, por hábito digo que não, nego um prazer cristão ao guarda, nego por complacência. Passo assim por uma rua qualquer, o sol agora embandeirado pelo céu anuncia um dia quente, anuncia que irei pingar, anuncia fedores, anuncia outros horrores, anuncia para o contínuo da procissão... Algo me chama ao passar por um beco, não era o verde reluzente do beiral de sua calçada, nem o bêbado caído, nem a curiosidade aflorando, algo quase instintivo, algo prometendo um alívio, algo simples e fugaz! Algo como o sorriso... Me desloco sem hesitação para a fenda, vou para o lado do Sol...

Era manhã, e já se passaram quase nove horas desde que tudo começou, aquele hábito já me repugna, lembro-me agora para sentir tudo e tudo no qual já desejei e passei um dia, preciso me sentir feliz, infeliz, preciso sentir sujo, sujo, preciso lembrar, lembrar para esquecer, esquecer e me amar... amar..

O Sol... Não havia nada mais belo que o sol no beco, ele cegava a minha consciência, ele com toda sua força, me rachava ao meio, e aos poucos – cego – fui para a sombra da única sacada, por instinto respirei buscando alívio, e senti um úmido ar se impregnar nos meus pulmões... Imaginei assim, um fauno jardim, impecavelmente verde, impecável por ser verde, impecável por enfrentar a ira radiosa, imaculado por resistir no vento e ser ar fresco. Abro os olhos - vejo um jardim cuidado sem maiores alardes e uma grande corrente de água jorrando- me concentro na corrente, o seu som me consome, fisguei uma fuga para o hábito, pelo visto – penso – ainda tenho meu lado animal não-domesticado... A visão era água, o ar era água, meu tato suava em água e minha mente fluía. Não tenho certeza de tempo, sei apenas que saciei do transe por uma convulsão, também não sei se havia sido um empurrão ou o hábito exigindo de uma posição mais passiva... Acordo... Acordo... Mas não sou passivo, sigo adentro do beco... Aquele sol está preso pelas nuvens, parece-me tosca a sua luminosidade, é uma cena trágica e cômica ao mesmo tempo... Sigo em frente... Cauteloso... Sutil... Sigo simplesmente... Tombo assim a idéia (NÃO!), palavra (NÃO!!), expressão (NÃO!!!), acusação (NÃOOO!)... Na parede encontrei o maior engano do homem... Signado: AMOR. Numa parede de três metros, reproduzida em milhões de amores vermelhos e brancos, era obsceno a quantidade de amor concentrado, amor dopante, amor chocante, amor mitigante, amor por amor. Não pensei em mais nada: A-MO-ORRRR... Recusei a palavra, recusei por hábito, recusei amar! Disso corri até o fim-início do beco, imaginei indo em direção ao sorriso. Imaginei-o me dizendo: Amor; então fugi. O hábito em seu estado de choque me exigia controle pleno, controle cronológico, controle hermético, exigia-me possessão – mas não acontecia - ... O amor violava a presença, me machucava, aquele sorriso era o sinal dessa minha lástima, o sorriso me amava! Senti uma dor desumana... Eu era então amado, era... Era desalmado, era... Era amalgamado, era... Virei reticência, por eras, por eras...Não via mais senão amor, senti o suor amando minha pele, numa orgia sem fim, era amor carnal, banal, pueril, era tudo! O mendigo amava o chão com seu corpo, e a sombra sob seu rosto o amava, ignorando o seu odor, o trânsito era o amor produzido instantaneamente, cada passo, cada grito, cada encostão, era o jeito humano de se amarem, havia uma guerra imensa nos meus olhos, mas tudo era amor se resumindo no infinito, no atemporal, demasiadamente... Por hábito ficaria em choque, mas não! Fui ao bar, larguei o blazer em cima do chão - percebi o desejo do chão pelo blazer - e quando ia terminar o pensamento, fui esbarrado... Sim, era uma pausa dessa psicose, foi todo tempo necessário para buscar o bar, para me assegurar da alteridade, para me concretizar sujeito necessitava de distorção... Aquilo que entendia por hábito me forçou a parar no terceiro boteco e em contradição, o terceiro me pareceu ser o mais sujo. Fiquei feliz...No bar sentei tonto, pronunciei três palavras inadvertidas: whisky seu garçom! Três palavras que se foram repetindo sem fim, – e para minha surpresa – o hábito pedia seu porre: ele quer gim – é claro que o garçom não entendeu.Tudo em primeiro instante passeava desconexo por todos os lados: a faxineira desbotava ao virar os meus olhos; whisky e gim se pareciam formidavelmente; e o garçom virou barman e isso era mais do que gozado... Tentei assim sentir o local... Mas nada me chamava, nada me hipnotizava, nem o som, nem a puta que se esgueirava no bar, nada, tudo me parecia simplificado, uma calma de sala de espera de hospital... Nada, uma brancura foi se aglomerando ao nada e desse nada veio uma vontade sádica de dor, e quase senti aquilo... Aquele a...

Acordo num quarto, nu, e cheio de marcas, sinto dores em todo corpo, sinto dormência e vejo o relógio: 15:00! – a compulsão re-iniciava -
...
Moreno B.

Rio de Janeiro – 30.12.2005

quinta-feira, 7 de junho de 2007

3ª Declinação

Tratará a próxima lição de latim da 3ª declinação, a mais importante por ser a mais variada, incluindo nomes de todos os gêneros com terminações distintas.
Antes de ir aos casos dessa declinação, é importante o conhecimento de dois tipos de palavras que entram nessa declinação: palavras parissílabas e palavras imparissílabas.

Palavras parissílabas são as que apresentam igual número de sílabas no nominativa e nos demais casos: (par = igual)

nom. genitivo dativo ablativo acusativo

auris auris auri aure aurem


Perceba-se que o número de sílabas é o mesmo, ao longo dos casos, mantendo-se essa regularidade tb no plural.

Palavras imparissílabas são as que têm diferente número de sílabas entre o nominativo e os casos: (impar: desigual)

nom. genitivo dativo ablativo acusativo

dux ducis duci duce ducem

Há uma diferença de números de sílabas entre o nominativo e os demais casos que tb mantém -se no plural. Acresça-se que o vocativo não foi citado por conservar o mesmo número de sílabas do nominativo, embora apresente terminação diversa da do nominativo em alguns exemplos.


Algumas particularidades devem ser observadas na 3ª declinação:

  • o genitivo singular termina em -is;
  • o genitivo plural apresenta duas terminações que não se usam indiferentemente -um e -ium;
  • Algumas palavras têm terminação do dativo, ablativo e acusativo diferente das do paradigma.

Segue aí o quadro paradigmático da 3ª declinação:

SINGULAR
Nominativo - várias terminações
Vocativo - idem
Genitivo - is
Dativo - i
Ablativo - e
Acusativo - em

PLURAL
Nominativo -es
Vocativo - es
Genitivo - um ou ium
Dativo - ibus
Ablativo - ibus
Acusativo - es


EXEMPLO: Homo (homem)

Nom. homo Nom. homines
Voc. homo Voc. homines
Gen. hominis Gen. hominum
Dat. homini Dat. homibus
Abla. homine Abla. hominibus
Acus. hominem Acus. homines

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Ausência

Já foi citado antes um tema que muito me chama atenção: ausência! Por isso pensei em traçar um paralelo com Vinícius, no texto abaixo, onde a abordagem do termo é feita sob diferente óptica.


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço e eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas, serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinícius de Moraes