segunda-feira, 4 de junho de 2007

Ausência

Já foi citado antes um tema que muito me chama atenção: ausência! Por isso pensei em traçar um paralelo com Vinícius, no texto abaixo, onde a abordagem do termo é feita sob diferente óptica.


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço e eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas, serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


Vinícius de Moraes

5 comentários:

cibely disse...

Ausência, falta, vazio...falta daquilo que já se teve. Ausência do vazio. Falta de ter falta.

Penso que a ausência é uma falta sentida, um vazio calado, um estado de dormência em relação ao espaço. Nessas horas, queria buscar a solidão.

Amanda Prado disse...

Linda essa poesia! Mas foi imitação do meu perfil no orkut... ^^

cibely disse...

na-na-ni-na-naum
eu nem tinha visto..
\o/
desculpa aew...

linda mesmo né..também acho ;)
ele é o cara.

Anônimo disse...

Fiz a minha monografia sob esse poema e uma música - de mesmo título - de Vinícius de Moraes...

"Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas, serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."

Perfeito!

As imagens que ele consegue criar são bem fortes: "Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço e eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado."

Muito bom!!

cibely disse...

Também acho..e ele tem umas imagens assim principalmente na fase de "natureza" dele, onde ele pega elementos da natureza para associar ao dia-à-dia, ou até mesmo ao tato, olfato etc.

Detalhes visitem meu blog- pequena propaganda aqui- sobre vinícius

beijos e beijos